Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

James Dickey - O Mago

Evocando outras incursões recriadoras sobre a narrativa bíblica dos magos – como “A viagem dos Magos”, de T. S. Eliot, ou “Os Magos”, de W. B. Yeats –, o poeta norte-americano aqui expressa as suas preocupações, responsabilidades e sentimentos para com seu filho, enfatizando, mais que o mistério a envolver a fábula dos magos, o mistério natural do advento de toda vida humana.

 

Do dístico inicial – em que a voz lírica afirma que a criança “não é mais que um deus” –, ao final – no qual arremata que o recém-nascido “não é mais que uma criança”, formula-se um “milagre ainda maior a ser revelado”: com parelha no texto dos Evangelhos, os versos fluem numa cadência quase cerimonial, conclamando os dois outros homens – os dois magos restantes, claro está – a se aproximarem do aposento onde se passa a cena, e, com eles também – pode-se especular – toda a linhagem dos ascendentes, próximos ou remotos, para que ratifiquem o milagre dessacralizado que é o nascimento de mais uma vida humana.

 

J.A.R. – H.C.

 

James Dickey

(1923-1997)

 

The Magus

 

It is time for the others to come.

This child is no more than a god.

 

No cars are moving this night.

The lights in the houses go out.

 

I put these out with the rest.

From his crib, the child begins

 

To shine, letting forth one ray

Through the twelve simple bars of his bed

 

Down into the trees, where two

Long-lost other men shall be drawn

 

Slowly up to the bring of the house,

Slowly in through the breath on the window.

 

But how did I get in this room?

Is this my son, or another’s?

 

Where is the woman to tell me

How my face is lit up by his body?

 

It is time for the others to come.

An event more miraculous yet

 

Is the thing I am shining to tell you.

This child is no more than a child.

 

In: “Drowning with Others” (1962)

 

O Mago Baltasar

(Jacques-Albert Gérin: pintor francês)

 

O Mago

 

Chegou o momento de os outros virem.

Esta criança não é mais que um deus.

 

Nenhum carro se move nesta noite.

As luzes das casas se apagam.

 

Apago estas junto às demais.

De seu berço, a criança começa

 

A esplender, deixando escapar um raio

Através dos doze simples barrotes de seu leito

 

Em direção às árvores, onde dois outros

Homens, há muito perdidos, serão atraídos

 

Lentamente até a entrada da casa,

Lentamente através do sopro da janela.

 

Mas como entrei neste aposento?

Este é meu filho ou de um outro?

 

Onde está a mulher para me dizer

Como seu corpo ilumina meu rosto?

 

Chegou o momento de os outros virem.

Um evento ainda mais milagroso

 

É o que estou radiante para anunciar-vos.

Esta criança não é mais que uma criança.

 

Em: “Sufocando com os Outros” (1962)

 

Referência:

 

DICKEY, James. The magus. In: __________. Poems: 1957-1967. 1st ed. New York, NY: Collier Books, 1968. p. 102.

 


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