Evocando outras
incursões recriadoras sobre a narrativa bíblica dos magos – como “A
viagem dos Magos”, de T. S. Eliot, ou “Os
Magos”, de W. B. Yeats –, o poeta norte-americano aqui expressa as suas preocupações,
responsabilidades e sentimentos para com seu filho, enfatizando, mais que o
mistério a envolver a fábula dos magos, o mistério natural do advento de toda
vida humana.
Do dístico inicial – em
que a voz lírica afirma que a criança “não é mais que um deus” –, ao final – no
qual arremata que o recém-nascido “não é mais que uma criança”, formula-se um “milagre
ainda maior a ser revelado”: com parelha no texto dos Evangelhos, os versos
fluem numa cadência quase cerimonial, conclamando os dois outros homens – os dois
magos restantes, claro está – a se aproximarem do aposento onde se passa a
cena, e, com eles também – pode-se especular – toda a linhagem dos ascendentes,
próximos ou remotos, para que ratifiquem o milagre dessacralizado que é o nascimento
de mais uma vida humana.
J.A.R. – H.C.
James Dickey
(1923-1997)
The Magus
It is time for the
others to come.
This child is no more
than a god.
No cars are moving
this night.
The lights in the
houses go out.
I put these out with
the rest.
From his crib, the
child begins
To shine, letting
forth one ray
Through the twelve
simple bars of his bed
Down into the trees,
where two
Long-lost other men
shall be drawn
Slowly up to the
bring of the house,
Slowly in through the
breath on the window.
But how did I get in
this room?
Is this my son, or
another’s?
Where is the woman to
tell me
How my face is lit up
by his body?
It is time for the
others to come.
An event more
miraculous yet
Is the thing I am
shining to tell you.
This child is no more
than a child.
In: “Drowning with
Others” (1962)
O Mago Baltasar
(Jacques-Albert Gérin:
pintor francês)
O Mago
Chegou o momento de
os outros virem.
Esta criança não é
mais que um deus.
Nenhum carro se move nesta
noite.
As luzes das casas se
apagam.
Apago estas junto às
demais.
De seu berço, a
criança começa
A esplender, deixando
escapar um raio
Através dos doze simples
barrotes de seu leito
Em direção às
árvores, onde dois outros
Homens, há muito
perdidos, serão atraídos
Lentamente até a
entrada da casa,
Lentamente através do
sopro da janela.
Mas como entrei neste
aposento?
Este é meu filho ou
de um outro?
Onde está a mulher
para me dizer
Como seu corpo
ilumina meu rosto?
Chegou o momento de
os outros virem.
Um evento ainda mais
milagroso
É o que estou radiante
para anunciar-vos.
Esta criança não é
mais que uma criança.
Em: “Sufocando com os
Outros” (1962)
Referência:
DICKEY, James. The
magus. In: __________. Poems: 1957-1967. 1st ed. New York, NY: Collier
Books, 1968. p. 102.
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