Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 22 de março de 2015

Archibald MacLeish - Ars Poetica

Todo poeta enceta passeios sobre a sua própria arte. Como já tivemos inúmeras oportunidades de ilustrar neste espaço, a arte de fazer poesia também é tema para inúmeras poesias. Metapoesias, portanto. De Carlos Drummond de Andrade a Antonin Artaud; de João Cabral de Melo Neto a Archibald MacLeish.

Neste último caso, nos moldes em que o poeta e bibliotecário norte-americano a retrata em seu poema “Ars Poetica”, homônimo indisfarçável do referente de Horácio (65 a.c. – 8 a.c): “um poema não deve significar, mas ser”. Valer por si próprio, pelo que diz ou silencia. Por sua estática, pela decantação dos estratos que deposita no mais profundo da alma. Pela experiência singular da apreciação do belo.

J.A.R. – H.C.

Archibald MacLeish
(1892-1982)

Ars Poetica

A poem should be palpable and mute  
As a globed fruit,

Dumb
As old medallions to the thumb,

Silent as the sleeve-worn stone
Of casement ledges where the moss has grown −

A poem should be wordless  
As the flight of birds.

A poem should be motionless in time  
As the moon climbs,

Leaving, as the moon releases
Twig by twig the night-entangled trees,

Leaving, as the moon behind the winter leaves,  
Memory by memory the mind −

A poem should be motionless in time  
As the moon climbs.

A poem should be equal to:
Not true.

For all the history of grief
An empty doorway and a maple leaf.

For love
The leaning grasses and two lights above the sea −

A poem should not mean  
But be.

Ars Poética
(Emna Zghal: artista tunisiana)

Ars Poetica

Um poema deve ser palpável e calado
Como um fruto arredondado,

Deve silenciar
Como velhos medalhões ao polegar,

Deve ser mudo como, gasta pelas mangas, a pedra
De parapeitos onde o musgo medra...

Um poema deve dispensar palavras
Como o voo das aves.

Um poema deve ser estático no tempo
Como a lua ascende,

Deixando, como a lua deixa soltas,
Ramo por ramo, as árvores em noite envoltas,

Deixando, como a lua atrás das folhas hibernais,
Memória por memória a mente...

Um poema deve ser estático no tempo
Como a lua ascende.

Um poema deve ser uma igualdade:
Não a verdade.

Por toda a história da agonia:
Uma folha de bordo e uma porta vazia.

Pelo amor:
Duas luzes sobre o mar e as relvas a pender...

Um poema não deve significar
Mas ser.

Referência:

MACLEISH, Archibald. Ars Poetica / Ars Poetica. In: VIZIOLI, Paulo (Seleção e Tradução). Poetas norte-americanos. Antologia Bilíngue. Edição Comemorativa do Bicentenário da Independência dos Estados Unidos da América: 1776-1976. Rio de Janeiro, RJ: Lidador, 1974. p. 115.

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