O poeta inglês
descreve os sinais ou os elementos da natureza que lhe são oferecidos para
deduzir algo sobre a mudança do tempo: os rumores provocados pela alteração do clima,
a inquietude no campo onde se encontram as ovelhas, o movimento migratório dos
peixes, o solfejo da sorveira quando suas ramas balançam – e por aí vai.
Há música sob um céu
coberto de trevas, mas “as nuvens ao redor da montanha começam a dissipar-se –
lenta e suavemente”: note o leitor que Goodfellow coloca o acento da mudança de
ano em elementos extrínsecos ao ente lírico, que apenas os capta e apreende,
enquanto Gullar, no poema ontem postado (v. abaixo), advoga que as verdadeiras
mudanças ocorrem no coração ou no ânimo das pessoas, quando decidem pôr em
prática os seus mais acalentados sonhos.
J.A.R. – H.C.
Matt Goodfellow
(Manchester: EN)
Poem for a New Year
Something’s moving
in,
I hear the weather in
the wind,
sense the tension of
the sheep-field
and the pilgrimage of
fins.
Something’s not the
same,
I taste the sap and
feel the grain,
hear the rolling of
the rowan
ringing, singing in a
change.
Something’s set to
start,
there’s meadow-music
in the dark
and the clouds that
shroud the mountain
slowly, softly start
to part.
Conduzindo o rebanho
ao aprisco
(Robert Hills: pintor
inglês)
Poema para um Ano
Novo
Algo está se movendo,
percebo o clima
através do vento,
desvendo a tensão no
campo das ovelhas
e a peregrinação das barbatanas.
Algo não é o mesmo,
provo a seiva e sinto
o grão,
ouço o ondular da
sorveira
ressoando, numa
mudança a solfejar.
Algo está a ponto de
começar,
há música campestre em
meio à escuridão
e as nuvens que
envolvem a montanha
começam a dispersar-se,
lenta e suavemente.
Referência:
GOODFELLOW, Matt.
Poem for a new year. In: CROSSAN, Sarah (Ch.). Tomorrow is beautiful:
poems to comfort uplift and delight. London, EN; Dublin, IE: Bloomsbury, 2021. p.
195.
Nenhum comentário:
Postar um comentário