Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 27 de janeiro de 2024

Raúl Bañuelos - Uma Vida

O cantor baiano Caetano Veloso, em uma de suas belas composições – “Dom de iludir”, lá pelos anos 70 –, afirma que “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”: e é a tal abstração que se refere o poeta mexicano nestas linhas, a saber, do arrebatamento que cada qual expressa pela via do autoconhecimento, pela superação dos percalços que a vida nos impõe, pelas interações nem sempre livres das forças de atrito (as quais, nada obstante, permitem-nos avançar a outros patamares), pelas conquistas ao final alcançadas.

 

Por outro lado, se nos revela certa “amargura” em não poder experimentar outras realidades – “de não ser mar, nem rio ou chuva” –, um mundo alternativo do qual só nos resta fantasiar, especular, teorizar, a contrastar com este outro bem mais tendente à máxima de Terêncio (~ 185 a.C – 159 a.C.): “Nada do que é humano me é estranho”.

 

J.A.R. – H.C.

 

Raúl Bañuelos

(n. 1954)

 

Una Vida

 

Un pez me dijo del río cosas largas y tremendas.

Me dijo que a sus piedras la dureza

les viene del agua que las golpea.

Y que la lluvia le duele y le entusiasma

más que cualquier cosa cualquiera.

 

Un pez me dijo del mar cosas anchas y tremendas.

Me dijo que a sus aguas el río le duele y le entusiasma

más que cualquier cosa cualquiera.

Y que la amargura le viene del agua

de lluvia que le golpea.

 

Un pez me dijo del hombre cosas largas, anchas y tremendas.

Me dijo que la dureza le viene de la amargura que le golpea.

Y que la vida le duele y le entusiasma

más que cualquier cosa cualquiera.

 

Una vida me dijo del hombre cosas largas, anchas y tremendas.

Me dijo que la amargura le viene

de no ser mar, ni río ni lluvia

y de ser hombre como cualquier cosa cualquiera.

 

Recolhendo as redes

(Winslow Homer: pintor norte-americano)

 

Uma Vida

 

Um peixe me disse do rio coisas longas e tremendas.

Disse-me que a suas pedras a dureza

vem da água que as golpeia.

E que a chuva lhe dói e entusiasma

mais do que qualquer coisa seja qual for.

 

Um peixe me disse do mar coisas largas e tremendas.

Disse-me que a suas águas o rio lhe dói e entusiasma

mais do que qualquer coisa seja qual for.

E que a amargura lhe vem da água

de chuva que o golpeia.

 

Um peixe me disse do homem coisas longas, largas e tremendas.

Disse-me que a dureza lhe vem da amargura que o golpeia.

E que a vida lhe dói e entusiasma

mais do que qualquer coisa seja qual for.

 

Uma vida me disse do homem coisas longas, largas e tremendas.

Disse-me que a amargura lhe vem

de não ser mar, nem rio ou chuva

e de ser homem como qualquer coisa seja qual for.

 

Referências:

 

Em Espanhol

 

BAÑUELOS, Raúl. Una vida. In: __________. Casa de sí. 1. ed. México, D.F.: Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM), 1993. p. 19-20.

 

Em Português


BAÑUELOS, Raúl. Uma vida. Tradução de Floriano Martins. In: LANGAGNE, Eduardo (Organização e Estudo Introdutório). Dentro do poema (poetas mexicanos nascidos entre 1950 e 1959). Tradução de Floriano Martins. Coedição com a Secretaria de Cultura do Estado do Ceará (Secult). Fortaleza, CE: Edições UFC, 2009. p. 92.

Nenhum comentário:

Postar um comentário