O cantor baiano
Caetano Veloso, em uma de suas belas composições – “Dom de iludir”, lá pelos
anos 70 –, afirma que “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”: e é a tal
abstração que se refere o poeta mexicano nestas linhas, a saber, do arrebatamento
que cada qual expressa pela via do autoconhecimento, pela superação dos
percalços que a vida nos impõe, pelas interações nem sempre livres das forças
de atrito (as quais, nada obstante, permitem-nos avançar a outros patamares),
pelas conquistas ao final alcançadas.
Por outro lado, se
nos revela certa “amargura” em não poder experimentar outras realidades – “de não
ser mar, nem rio ou chuva” –, um mundo alternativo do qual só nos resta
fantasiar, especular, teorizar, a contrastar com este outro bem mais tendente à
máxima de Terêncio (~ 185 a.C – 159 a.C.): “Nada do que é humano me é estranho”.
J.A.R. – H.C.
Raúl Bañuelos
(n. 1954)
Una Vida
Un pez me dijo del
río cosas largas y tremendas.
Me dijo que a sus
piedras la dureza
les viene del agua
que las golpea.
Y que la lluvia le
duele y le entusiasma
más que cualquier
cosa cualquiera.
Un pez me dijo del
mar cosas anchas y tremendas.
Me dijo que a sus
aguas el río le duele y le entusiasma
más que cualquier
cosa cualquiera.
Y que la amargura le
viene del agua
de lluvia que le
golpea.
Un pez me dijo del
hombre cosas largas, anchas y tremendas.
Me dijo que la dureza
le viene de la amargura que le golpea.
Y que la vida le
duele y le entusiasma
más que cualquier
cosa cualquiera.
Una vida me dijo del
hombre cosas largas, anchas y tremendas.
Me dijo que la
amargura le viene
de no ser mar, ni río
ni lluvia
y de ser hombre como
cualquier cosa cualquiera.
Recolhendo as redes
(Winslow Homer:
pintor norte-americano)
Uma Vida
Um peixe me disse do
rio coisas longas e tremendas.
Disse-me que a suas
pedras a dureza
vem da água que as
golpeia.
E que a chuva lhe dói
e entusiasma
mais do que qualquer
coisa seja qual for.
Um peixe me disse do
mar coisas largas e tremendas.
Disse-me que a suas
águas o rio lhe dói e entusiasma
mais do que qualquer
coisa seja qual for.
E que a amargura lhe
vem da água
de chuva que o
golpeia.
Um peixe me disse do
homem coisas longas, largas e tremendas.
Disse-me que a dureza
lhe vem da amargura que o golpeia.
E que a vida lhe dói
e entusiasma
mais do que qualquer
coisa seja qual for.
Uma vida me disse do
homem coisas longas, largas e tremendas.
Disse-me que a
amargura lhe vem
de não ser mar, nem
rio ou chuva
e de ser homem como
qualquer coisa seja qual for.
Referências:
Em Espanhol
BAÑUELOS, Raúl. Una vida.
In: __________. Casa de sí. 1. ed. México, D.F.: Universidad Nacional
Autónoma de México (UNAM), 1993. p. 19-20.
Em Português
BAÑUELOS, Raúl. Uma
vida. Tradução de Floriano Martins. In: LANGAGNE, Eduardo (Organização e Estudo
Introdutório). Dentro do poema (poetas mexicanos nascidos entre 1950 e
1959). Tradução de Floriano Martins. Coedição com a Secretaria de Cultura do Estado
do Ceará (Secult). Fortaleza, CE: Edições UFC, 2009. p. 92.
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