Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 28 de novembro de 2023

Louise Bogan - Mulheres

Lançando mão de uma ironia reversa, a poetisa tenta mostrar o quanto o mundo das mulheres segue as balizas das restrições impostas pelos homens, num espaço restrito como as celas de uma prisão, onde elas vivenciam as suas hesitações e as rigidezes de suas crenças, dando pouca margem à expressão saudável de suas emoções.

 

Não indômitas, mas domesticadas; não perdulárias, mas frugais; não expostas ao quotidiano do mundo urbano ou rural, mas limitadas em seus movimentos e experiências; inaptas a um amor na medida certa, pois que a se revelar premido ou frouxo demais. Frente a esse quadro, não sem razão, a voz lírica preconiza às mulheres que, vislumbrando que muito do melhor que a vida possa oferecer esteja para além da soleira de suas portas, que se permitam ir ao encontro de tais venturas.

 

J.A.R. – H.C.

 

Louise Bogan

(1897-1970)

 

Women

 

Women have no wilderness in them,

They are provident instead,

Content in the tight hot cell of their hearts

To eat dusty bread.

 

They do not see cattle cropping red winter grass,

They do not hear

Snow water going down under culverts

Shallow and clear.

 

They wait, when they should turn to journeys,

They stiffen, when they should bend.

They use against themselves that benevolence

To which no man is friend.

 

They cannot think of so many crops to a field

Or of clean wood cleft by an axe.

Their love is an eager meaninglessness

Too tense, or too lax.

 

They hear in every whisper that speaks to them

A shout and a cry.

As like as not, when they take life over their door-sills

They should let it go by.

 

Duas Mulheres à Janela

(Bartolomé E. Murillo: pintor espanhol)

 

Mulheres

 

Não há desperdícios nas mulheres,

Pelo contrário, são elas frugais,

Satisfeitas na cálida e estreita cela de seus corações,

Mesmo que se alimentem com pão pulverulento.

 

Não veem o gado a pastar a invernal relva avermelhada,

Não ouvem

A água descongelada da neve descendo às galerias

Nítidas e pouco profundas.

 

Elas se demoram, em vez de empreender jornadas,

Enrijecem, quando deveriam manter-se flexíveis.

Empregam contra si mesmas aquela benevolência

A que nenhum homem é propenso.

 

Não chegam a cogitar nas muitas segas de um só campo

Ou na madeira fendida e desbastada por um machado.

O amor que expressam é um ansioso sem sentido,

Muito tenso ou relaxado demais.

 

Elas ouvem em cada sussurro que se lhes dirigem

Um grito e um pranto.

Assentindo ou não, ao deduzirem a vida para além

do limiar de suas portas,

Deveriam deixá-la que o transponha.

 

Referência:

 

BOGAN, Louise. Women. In: RATTINER, Susan L. (Ed.). Great poems by american women: an anthology. 1st ed. Mineola, NY: Dover Publications, 1998. p. 216. (Dover Thrift Editions: Poetry)

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