O poeta interroga-se
sobre o seu próprio mister, a relevância de se pôr a escrever sobre “velhas glórias”,
“antigos conflitos” ou “imprevistas ternuras”, quando poderia se ocupar com “coisas
muito mais úteis”, relevantes, considerando que, no mundo, há questões mais prementes,
não explicitamente elencadas, embora as possamos presumir: a pobreza, os
imparáveis conflitos bélicos, a fome ou outras mais.
Mas se o exercício da
poesia fosse assim tão despiciendo, desimportante, por que então se deter a
redigir mais uma poesia sobre a moribunda poesia? Apenas como praxe
conjectural, poder-se-ia arguir que, se o poeta desmerece a poesia que se volta
a tentar reviver o passado, por que então não se tornar o visionário de um
futuro mais equilibrado para a humanidade? Será que, desse modo, as
J.A.R. – H.C.
Juan Gustavo C. Borda
(1948-2022)
Poética
¿Cómo escribir ahaora
poesía,
por qué no callarnos
definitivamente
y dedicarnos a cosas
mucho más útiles?
¿Para qué aumentar
las dudas,
revivir antiguos
conflitos,
imprevistas ternuras;
ese poco de ruido
añadido a un mundo
que lo sobrepasa y
anula?
¿Se aclara algo con
semejante ovillo?
Nadie la necesita.
Residuo de viejas
glorias,
¿a quién acompanha,
qué heridas cura?
O Poeta
(Grus Lindgren:
artista sueco)
Poética
Como escrever poesia
agora,
por que não nos calar
definitivamente
e nos dedicar a
coisas muito mais úteis?
Para que aumentar as
dúvidas,
reviver antigos
conflitos,
imprevistas ternuras;
esse pouco de ruído
acrescido a um mundo
que o sobrepassa e
anula?
Algo se aclara com
semelhante enredamento?
Ninguém precisa
disso.
Resíduo de velhas
glórias,
a quem acompanha, que
feridas cura?
Referência:
BORDA, Juan Gustavo Cobo. Poética. In: LUQUE, José María Gómez (Org.). Antología de lá poesía hispanoamericana. 4. reimp. Madrid, ES: Editorial Alba, 1999. p. 70.
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