O filósofo e poeta
espanhol, em meados de junho de 1907, no Porto (PT), redigiu estes versos dedicados
a Portugal, terra de gente nobre em meio ao fado, a meditar, “queixosa e
lentamente”, sobre as “glórias do Oriente”: as imagens suscitadas evocam o
marco fisiográfico da pátria lusitana, debruçada ao mar, de onde lhe vem o
alento para outros tantos feitos.
Terra trigueira de “trágicos
amores”, talvez mais que de solidões, chorosa de saudades, saudades que lhe cominam
um fardo na ossatura, daí essa face entre as mãos, os cotovelos arriados sobre
os joelhos e o olhar a fixar o sol posto sobre o “mar imenso”: levanta-te
Portugal, ainda há muito o que descortinar sob este contingente firmamento!
J.A.R. – H.C.
Miguel de Unamuno
(1864-1936)
Portugal
Portugal, Portugal,
tierra descalza,
acurrucada junto al
mar, tu madre,
llorando soledades
de trágicos amores,
mientras tus pies
desnudos las espumas
saladas bañan,
tu verde cabellera
suelta al viento
– cabellera de pinos
rumorosos –
los codos descansando
en las rodillas,
y la cara morena
entre ambas palmas,
clavas tus ojos donde
el sol se acuesta
solo en la mar
inmensa,
y en el lento
naufragio así meditas
de tus glorias de
Oriente,
cantando fados quejumbrosa
y lenta.
En: “Poesías Sueltas” (1907-1910)
Ribeira do Porto
(J. Baltar: pintor
prov. português)
Portugal
Portugal, Portugal,
terra descalça,
acocorada junto ao
mar, tua mãe,
chorando solidões
de trágicos amores,
enquanto os teus pés despidos
as espumas
salgadas banham,
tua verde cabeleira
solta ao vento
– cabeleira de
pinheiros rumorejantes –
os cotovelos
descansando nos joelhos,
e o rosto moreno
entre as mãos,
fixas os teus olhos
onde o sol se põe
sozinho no mar
imenso,
e no lento naufrágio
assim meditas
sobre tuas glórias do
Oriente,
queixosa e lentamente
a cantar fados.
Em: “Poesias Soltas” (1907-1910)
Referência:
UNAMUNO, Miguel de.
Portugal. In: __________. Obras completas: cancionero, poesias sueltas,
traducciones; vol. V. Madrid, ES: Fundación José Antonio de Castro, jun. 2002. p.
927. (‘Biblioteca Castro’)
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