Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 8 de novembro de 2023

Murilo Mendes - O Filho Pródigo

Permeada por um sentido deontológico, a parábola de Cristo, em Lucas 15: 11-32, revela-nos o quanto carece de moralidade aquele que obtém a sua parte na herança, estando ainda vivo o titular dos bens e haveres – no caso, o pai –, para dilapidá-la em pouco tempo, vivendo irresponsavelmente em meio a pecados e perdições.

 

Do outro lado, há um pai indulgente, que perdoa as insensatezes do filho, recusando-lhe as moções no sentido de tornar-se um pai-patrão: quem sempre esteve com o pai – o contrariado segundo filho –, vive com este em comunhão de pão e vinho, compondo uma única família, agora reintegrada pelo filho dissoluto, que “estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi encontrado”.

 

J.A.R. – H.C.

 

Murilo Mendes

(1901-1975)

 

O Filho Pródigo

 

À beira do antiuniverso debruçado

Observo, ó Pai, a tua arquitetura.

Este corpo não admite o peso da cabeça...

Tudo se expande num sentido amargo.

 

Lembro-me ainda quando me evocaste

Do teu caos para o dia da promessa.

O fogo irrompia das mulheres

E se floria o sol de girassóis.

 

Uma única vez eu te entrevi,

Entre humano e divino inda indeciso,

Atraindo-me ao teu íngreme coração.

 

Para outros armaste o teu festim:

E da tua música só me vem agora

O soluço da terra, dissonante.

 

Em: “Sonetos Brancos” (1946-1948)

 

O Retorno do Filho Pródigo

(Bartolomé E. P. Murillo: pintor espanhol)

 

Referência:

 

MENDES, Murilo. O filho pródigo. In: __________. Poesias (1925-1955). Rio de Janeiro, RJ: José Olympio, 1959. p. 338-339.

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