Permeada por um
sentido deontológico, a parábola de Cristo, em Lucas 15: 11-32, revela-nos o
quanto carece de moralidade aquele que obtém a sua parte na herança, estando
ainda vivo o titular dos bens e haveres – no caso, o pai –, para dilapidá-la em
pouco tempo, vivendo irresponsavelmente em meio a pecados e perdições.
Do outro lado, há um
pai indulgente, que perdoa as insensatezes do filho, recusando-lhe as moções no
sentido de tornar-se um pai-patrão: quem sempre esteve com o pai – o contrariado
segundo filho –, vive com este em comunhão de pão e vinho, compondo uma única
família, agora reintegrada pelo filho dissoluto, que “estava morto e voltou à
vida, estava perdido e foi encontrado”.
J.A.R. – H.C.
Murilo Mendes
(1901-1975)
O Filho Pródigo
À beira do
antiuniverso debruçado
Observo, ó Pai, a tua
arquitetura.
Este corpo não admite
o peso da cabeça...
Tudo se expande num
sentido amargo.
Lembro-me ainda
quando me evocaste
Do teu caos para o
dia da promessa.
O fogo irrompia das
mulheres
E se floria o sol de
girassóis.
Uma única vez eu te
entrevi,
Entre humano e divino
inda indeciso,
Atraindo-me ao teu
íngreme coração.
Para outros armaste o
teu festim:
E da tua música só me
vem agora
O soluço da terra,
dissonante.
Em: “Sonetos Brancos”
(1946-1948)
O Retorno do Filho
Pródigo
(Bartolomé E. P.
Murillo: pintor espanhol)
Referência:
MENDES, Murilo. O filho pródigo. In: __________. Poesias (1925-1955). Rio de Janeiro, RJ: José Olympio, 1959. p. 338-339.
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