Escrito longe de
casa, lá pelo sudoeste do Pacífico, em 1942 – enquanto o autor servia na armada
norte-americana na 2GM –, este poema expressa a inquietude do poeta, distanciado
da amada e do lar em tempos de guerra, motivo por que inventaria um rol de imagens
que se processam em sua mente conturbada, ainda que se pautem, vez por outra, em
elementos descritivos da natureza.
É como se
compulsoriamente afastado do paraíso, a nostalgia mergulhasse o ente lírico em recordações
de uma felicidade segura junto aos seus, em contraste com a áspera realidade,
feito um pesadelo ostensivo, no qual se mesclam os sonhos de glória e o medo da
morte, anaforicamente vaticinada para muitos no epistrófico verso a dar fecho a
cada estância.
J.A.R. – H.C.
Karl Shapiro
(1913-2000)
Nostalgia
My soul stands at the
window of my room,
And I ten thousand
miles away;
My days are filled
with Ocean’s sound of doom,
Salt and cloud and
the bitter spray.
Let the wind blow,
for many a man shall die.
My selfish youth, my
books with gilded edge,
Knowledge and all
gaze down the street;
The potted plants
upon the window ledge
Gaze down with
selfish lives and sweet.
Let the wind blow,
for many a man shall die.
My night is now her
day, my day her night,
So I lie down, and so
I rise;
The sun burns close,
the star is losing height,
The clock is hunted
down the skies.
Let the wind blow,
for many a man shall die.
Truly a pin can make
the memory bleed,
A world explode the
inward mind
And turn the skulls
and flowers never freed
Into the air, no
longer blind.
Let the wind blow, for
many a man shall die.
Laughter and grief
join hands. Always the heart
Clumps in the breast
with heavy stride;
The face grows lined
and wrinkled like a chart.
The eyes bloodshot
with tears and tide.
Let the wind blow,
for many a man shall die.
Mar Bravio
(Sándor Száva: pintor
húngaro)
Nostalgia
Minha alma fica à
janela do meu quarto,
E eu a dez mil milhas
de distância;
Meus dias cobrem-se
com o som voraz do oceano,
O sal, a nuvem e o
borrifo amargo.
Deixe soprar o vento,
pois morrerão muitos homens.
Minha juventude
egoísta, meus livros de dorso ornado,
A sabedoria e o resto
contemplam lá embaixo a rua;
As plantas cultivadas
no rebordo da janela
Contemplam a rua,
egoístas e com ternura.
Deixe soprar o vento,
pois morrerão muitos homens.
Minha noite agora é o
seu dia, o meu dia a sua noite,
Assim eu me deito, e
assim me levanto;
O sol queima de
perto, a estrela perdendo altura,
O relógio sendo
caçado ao longo do firmamento.
Deixe soprar o vento,
pois morrerão muitos homens.
Um alfinete em
verdade pode fazer a memória sangrar,
Um mundo explodir a
recôndita mente
E levar crânios e
flores nunca libertos
Pelo ar, já não mais às
cegas.
Deixe soprar o vento,
pois morrerão muitos homens.
Riso e desgosto
dão-se as mãos. O coração sempre
Amontoa-se no peito
com galope tardo;
A face risca-se e
marca-se feito um mapa.
Os olhos se injetam
de choro e maré montante.
Deixe soprar o vento,
pois morrerão muitos homens.
Referências:
Em Inglês
SHAPIRO, Karl.
Nostalgia. In: __________. The wild card: selected poems, early &
late. Edited by Stanley Kunitz and David Ignatow. Urbana & Chicago (IL): University
of Illinois Press, 1998. p. 43.
Em Português
SHAPIRO, Karl.
Nostalgia. Tradução de Zulmira Ribeiro Tavares. In: GUINSBURG, J.; TAVARES,
Zulmira Ribeiro (Orgs.). Quatro mil anos de poesia. Desenhos de Paulina
Rabinovich. Vários tradutores. São Paulo, SP: Perspectiva, 1960. p. 429.
(Coleção “Judaica”; v. 12)
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