Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 17 de novembro de 2023

Karl Shapiro - Nostalgia

Escrito longe de casa, lá pelo sudoeste do Pacífico, em 1942 – enquanto o autor servia na armada norte-americana na 2GM –, este poema expressa a inquietude do poeta, distanciado da amada e do lar em tempos de guerra, motivo por que inventaria um rol de imagens que se processam em sua mente conturbada, ainda que se pautem, vez por outra, em elementos descritivos da natureza.

 

É como se compulsoriamente afastado do paraíso, a nostalgia mergulhasse o ente lírico em recordações de uma felicidade segura junto aos seus, em contraste com a áspera realidade, feito um pesadelo ostensivo, no qual se mesclam os sonhos de glória e o medo da morte, anaforicamente vaticinada para muitos no epistrófico verso a dar fecho a cada estância.

 

J.A.R. – H.C.

 

Karl Shapiro

(1913-2000)

 

Nostalgia

 

My soul stands at the window of my room,

And I ten thousand miles away;

My days are filled with Ocean’s sound of doom,

Salt and cloud and the bitter spray.

Let the wind blow, for many a man shall die.

 

My selfish youth, my books with gilded edge,

Knowledge and all gaze down the street;

The potted plants upon the window ledge

Gaze down with selfish lives and sweet.

Let the wind blow, for many a man shall die.

 

My night is now her day, my day her night,

So I lie down, and so I rise;

The sun burns close, the star is losing height,

The clock is hunted down the skies.

Let the wind blow, for many a man shall die.

 

Truly a pin can make the memory bleed,

A world explode the inward mind

And turn the skulls and flowers never freed

Into the air, no longer blind.

Let the wind blow, for many a man shall die.

 

Laughter and grief join hands. Always the heart

Clumps in the breast with heavy stride;

The face grows lined and wrinkled like a chart.

The eyes bloodshot with tears and tide.

Let the wind blow, for many a man shall die.

 

Mar Bravio

(Sándor Száva: pintor húngaro)

  

Nostalgia

 

Minha alma fica à janela do meu quarto,

E eu a dez mil milhas de distância;

Meus dias cobrem-se com o som voraz do oceano,

O sal, a nuvem e o borrifo amargo.

Deixe soprar o vento, pois morrerão muitos homens.

 

Minha juventude egoísta, meus livros de dorso ornado,

A sabedoria e o resto contemplam lá embaixo a rua;

As plantas cultivadas no rebordo da janela

Contemplam a rua, egoístas e com ternura.

Deixe soprar o vento, pois morrerão muitos homens.

 

Minha noite agora é o seu dia, o meu dia a sua noite,

Assim eu me deito, e assim me levanto;

O sol queima de perto, a estrela perdendo altura,

O relógio sendo caçado ao longo do firmamento.

Deixe soprar o vento, pois morrerão muitos homens.

 

Um alfinete em verdade pode fazer a memória sangrar,

Um mundo explodir a recôndita mente

E levar crânios e flores nunca libertos

Pelo ar, já não mais às cegas.

Deixe soprar o vento, pois morrerão muitos homens.

 

Riso e desgosto dão-se as mãos. O coração sempre

Amontoa-se no peito com galope tardo;

A face risca-se e marca-se feito um mapa.

Os olhos se injetam de choro e maré montante.

Deixe soprar o vento, pois morrerão muitos homens.

 

Referências:

 

Em Inglês

 

SHAPIRO, Karl. Nostalgia. In: __________. The wild card: selected poems, early & late. Edited by Stanley Kunitz and David Ignatow. Urbana & Chicago (IL): University of Illinois Press, 1998. p. 43.

 

Em Português

 

SHAPIRO, Karl. Nostalgia. Tradução de Zulmira Ribeiro Tavares. In: GUINSBURG, J.; TAVARES, Zulmira Ribeiro (Orgs.). Quatro mil anos de poesia. Desenhos de Paulina Rabinovich. Vários tradutores. São Paulo, SP: Perspectiva, 1960. p. 429. (Coleção “Judaica”; v. 12)

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