O ente lírico se vê
enleado ante a “femeeza mais sedenta” das frutas de sua terra natal – tão masculina
–, jogando com as palavras para fazer eclodir no imaginário do leitor uma
atmosfera de sedução e erotismo da mais pura carnalidade, a que se subsome os atributos
de feminilidade e sensualidade das mulheres de Pernambuco.
Elementos comportamentais
libidinosos são trazidos à colação, na qualidade de insuspeitas metáforas ostentadas
por criações da natureza desprovidas de realidade anímica – as frutas –, num
imaginário bosquejo antropomórfico de cama e mesa, bem ao estilo pensante do
autor, de uma poética cuja arquitetônica se pretende, notoriamente, antirromântica.
J.A.R. – H.C.
João Cabral de M. Neto
(1920-1999)
As frutas de
Pernambuco
Pernambuco, tão
masculino,
que agrediu tudo, de
menino,
é capaz das frutas
mais fêmeas
e da femeeza mais
sedenta.
São ninfomaníacas,
quase,
no dissolver-se, no
entregar-se,
sem nada guardar-se,
de puta.
Mesmo nas ácidas, o
açúcar,
é tão carnal, grosso,
de corpo,
de corpo para o
corpo, o coito,
que mais na cama que
na mesa
seria cômodo
querê-las.
Em: “A escola das Facas”
(1980)
Natureza-morta com
frutas
(Caravaggio: pintor
italiano)
Referência:
MELO NETO, João
Cabral. As frutas de Pernambuco. In: __________. Obra completa.
Organização de Marly de Oliveira. Rio de Janeiro, RJ: Nova Aguilar, 2003. p.
135.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário