Descritiva em sua
proposta, a primeira estrofe deste poema revela-se como uma tese clínica sobre
o ciúme, essa complexa emoção, doentia com frequência, que atinge a muito(a)s
quando se veem sob uma ameaça – real ou imaginária – de uma terceira pessoa, interposta
no relacionamento afetivo com a(o) sua(eu) parceira(o).
O poeta associa à
figura bíblica de Lázaro aquele acometido por tal perturbação, pois “que acha
que ainda vive, embora morto”, “sem participar da alegria dos vivos”.
Apesar de termos
Lázaro como um ressurrecto, o sentido colimado pelo autor dinamarquês, nada obstante,
pauta-se sensivelmente pelo acento grave sobre as imagens tumulares, gélidas e
fúnebres, que persistem nesse “Lázaro” metafórico, enciumado e espectral: um
vivo atormentado por ciúmes, como se morto fosse, em conexão reversa com um
morto, destinatário do amor incondicional de Cristo, que retorna à vida!
J.A.R. – H.C.
Thorkild Bjørnvig
(1918-2004)
Jalousi
Beviser Skinsygen?
Genfærd af Eros,
Forfærdelse, Kvalme,
nervøst Raseri:
erindret Kærlighed,
ubekvem, ynket,
som tror den lever,
skønt alt er forbi.
Tilovers: en Lazarus
opkaldt af Graven
med Isluft hængende
i sine Klæder –
som sidder til Bords
med
de Levende, uden
at eje Del i
de Levendes Glæder.
Ciúmes
(Edvard Munch: pintor
norueguês)
Ciúme
O que prova o ciúme?
De Eros fantasma,
Horror, náusea,
Irrupção de nervos:
Amor recordado,
Autoconsternado,
Que acha que ainda
vive,
embora morto.
Resta: um Lázaro
Do túmulo saído
Com ar de gelo
Nas vestes preso –
Sentado à mesa
Com os vivos, mas
Sem participar
Da alegria dos vivos.
Referência:
BJØRNVIG, Thorkild.
Jalousi / Ciúme. Tradução de Per Johns. In: JANSEN, F. J. Billeskov; HANSEN, R.
Wagner (Orgs.). Panorama da literatura dinamarquesa. Edição bilíngue: dinamarquês
x português. Tradução de Per Johns. Rio de Janeiro, RJ: Nórdica, 1981. Em
dinamarquês: p. 590; em português: p. 591.
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