Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 22 de novembro de 2023

Thorkild Bjørnvig - Ciúme

Descritiva em sua proposta, a primeira estrofe deste poema revela-se como uma tese clínica sobre o ciúme, essa complexa emoção, doentia com frequência, que atinge a muito(a)s quando se veem sob uma ameaça – real ou imaginária – de uma terceira pessoa, interposta no relacionamento afetivo com a(o) sua(eu) parceira(o).

 

O poeta associa à figura bíblica de Lázaro aquele acometido por tal perturbação, pois “que acha que ainda vive, embora morto”, “sem participar da alegria dos vivos”.

 

Apesar de termos Lázaro como um ressurrecto, o sentido colimado pelo autor dinamarquês, nada obstante, pauta-se sensivelmente pelo acento grave sobre as imagens tumulares, gélidas e fúnebres, que persistem nesse “Lázaro” metafórico, enciumado e espectral: um vivo atormentado por ciúmes, como se morto fosse, em conexão reversa com um morto, destinatário do amor incondicional de Cristo, que retorna à vida!

 

J.A.R. – H.C.

 

Thorkild Bjørnvig

(1918-2004)

 

Jalousi

 

Beviser Skinsygen?

Genfærd af Eros,

Forfærdelse, Kvalme,

nervøst Raseri:

erindret Kærlighed,

ubekvem, ynket,

som tror den lever,

skønt alt er forbi.

 

Tilovers: en Lazarus

opkaldt af Graven

med Isluft hængende

i sine Klæder –

som sidder til Bords med

de Levende, uden

at eje Del i

de Levendes Glæder.

 

Ciúmes

(Edvard Munch: pintor norueguês)

 

Ciúme

 

O que prova o ciúme?

De Eros fantasma,

Horror, náusea,

Irrupção de nervos:

Amor recordado,

Autoconsternado,

Que acha que ainda vive,

embora morto.

 

Resta: um Lázaro

Do túmulo saído

Com ar de gelo

Nas vestes preso –

Sentado à mesa

Com os vivos, mas

Sem participar

Da alegria dos vivos.

 

Referência:

 

BJØRNVIG, Thorkild. Jalousi / Ciúme. Tradução de Per Johns. In: JANSEN, F. J. Billeskov; HANSEN, R. Wagner (Orgs.). Panorama da literatura dinamarquesa. Edição bilíngue: dinamarquês x português. Tradução de Per Johns. Rio de Janeiro, RJ: Nórdica, 1981. Em dinamarquês: p. 590; em português: p. 591.

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