A não ser por obras
publicadas e encontradiças nos ‘sites’ de livrarias e bibliotecas, a autora
deste poema, decerto de origem portuguesa, quase se alinha à ideia de “anonimato”
que o intitula, haja vista que pouco se encontra na grande rede qualquer alusão
aos seus dados biográficos: presume-se, por conseguinte, que preza pelo próprio
sossego, tranquilidade e paz.
Advoga Santiago que os
intranquilos é que dão acento à notabilidade de todo o infortúnio que grassa no
mundo, encontrando ressonância na intranquilidade dos que lhes são conformes,
quando, de fato, deveriam rastrear a chama dos que difundem a alegria de se
recolher em “realidades não divulgadas”.
J.A.R. – H.C.
Anonimato: rostos na
multidão
(Ben Will: artista
norte-americano)
o anonimato
Há milhões de seres
humanos felizes, a cumprir
calmamente o caminho
que lhes está reservado.
Ninguém fala deles
apenas porque são simples,
sem tragédia que
precisem de evidenciar.
Errado vive o Mundo
porque conhece mais o que é causa
de desgraça do que o
que é razão de alegria.
Supostamente porque o
contínuo é de alegria e a desgraça
é desvio? Por
exorcismo, não vá o desvio sobrepor-se
à monotonia? Por
necessidade de morte e destruição?
(E esta questão
encerra novo exorcismo: por medo,
banalize-se a
imanente condenação.)
Os intranquilos de
coração reveem-se e consolam-se na
intranquilidade de
outros – que é o que constitui notícia
e motivo de
divulgação – e reforçam assim a sua ideia
generalizada da
inquietude do Mundo.
Em vez disso, deviam
procurar gente anônima,
possuidora de
realidades não divulgadas.
Porque os tesouros da
paz, do sossego e da tranquila
espera apenas podem
ser guardados por gentios
do anonimato.
Anônimo
(Michael Creese: pintor
norte-americano)
Referência:
SANTIAGO, Elvira. o
anonimato. In: __________. Intermezzo. Viseu, PT: Palimage (A Imagem e a
Palavra), 1999. p. 29.
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