Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 11 de novembro de 2023

Elvira Santiago - o anonimato

A não ser por obras publicadas e encontradiças nos ‘sites’ de livrarias e bibliotecas, a autora deste poema, decerto de origem portuguesa, quase se alinha à ideia de “anonimato” que o intitula, haja vista que pouco se encontra na grande rede qualquer alusão aos seus dados biográficos: presume-se, por conseguinte, que preza pelo próprio sossego, tranquilidade e paz.

 

Advoga Santiago que os intranquilos é que dão acento à notabilidade de todo o infortúnio que grassa no mundo, encontrando ressonância na intranquilidade dos que lhes são conformes, quando, de fato, deveriam rastrear a chama dos que difundem a alegria de se recolher em “realidades não divulgadas”.

 

J.A.R. – H.C.

 

Anonimato: rostos na multidão

(Ben Will: artista norte-americano)

 

o anonimato

 

Há milhões de seres humanos felizes, a cumprir

calmamente o caminho que lhes está reservado.

Ninguém fala deles apenas porque são simples,

sem tragédia que precisem de evidenciar.

 

Errado vive o Mundo porque conhece mais o que é causa

de desgraça do que o que é razão de alegria.

Supostamente porque o contínuo é de alegria e a desgraça

é desvio? Por exorcismo, não vá o desvio sobrepor-se

à monotonia? Por necessidade de morte e destruição?

(E esta questão encerra novo exorcismo: por medo,

banalize-se a imanente condenação.)

 

Os intranquilos de coração reveem-se e consolam-se na

intranquilidade de outros – que é o que constitui notícia

e motivo de divulgação – e reforçam assim a sua ideia

generalizada da inquietude do Mundo.

Em vez disso, deviam procurar gente anônima,

possuidora de realidades não divulgadas.

 

Porque os tesouros da paz, do sossego e da tranquila

espera apenas podem ser guardados por gentios

do anonimato.

 

Anônimo

(Michael Creese: pintor norte-americano)

 

Referência:

 

SANTIAGO, Elvira. o anonimato. In: __________. Intermezzo. Viseu, PT: Palimage (A Imagem e a Palavra), 1999. p. 29.

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