Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 18 de novembro de 2023

Hilda Doolittle - Pomar

A poetisa cria contrastes entre o que é belo e a sua proximidade com o desvanecimento, o encanto de um exuberante pomar e a simplicidade parcamente polida de um deus que o preside: tudo nos leva a crer que o sentido do poema seja denotar a excruciante proximidade de um estado de êxtase em razão da beleza à finitude de tudo quanto existe, motivo pelo qual a voz lírica reforça a ideia de que prefere ser poupada a tamanho enleio.

 

A oferenda da falante ao precitado deus não é outra senão os frutos que se destacam das árvores do horto. Quase se equivalem, em se tratando de uma mulher prostrada frente ao supradito encanto, a um filho como oblata ao eterno, para que se digne permitir posteridade e protraimento às experiências terrenas.

 

J.A.R. – H.C.

 

Hilda Doolittle

(1886-1961)

 

Orchard

 

I saw the first pear

as it fell –

the honey-seeking, golden-banded,

the yellow swarm

was not more fleet than I,

(spare us from loveliness)

and I fell prostrate

crying:

you have flayed us

with your blossoms,

spare us the beauty

of fruit-trees.

 

The honey-seeking

paused not,

the air thundered their song,

and I alone was prostrate.

 

O rough hewn

god of the orchard,

I bring you an offering –

do you, alone unbeautiful,

son of the god,

spare us from loveliness:

 

these fallen hazel-nuts,

stripped late of their green sheaths,

grapes, red-purple,

their berries

dripping with wine,

pomegranates already broken,

and shrunken fig

and quinces untouched,

I bring you as offering.

 

In: “Sea Garden” (1912-1916)

 

Pomar de Macieiras

(Carl Larsson: pintor sueco)

 

Pomar

 

Vi a primeira pera

enquanto caía –

as colheitadeiras de mel, o estriado dourado,

a colmeia amarela,

nada era mais fugaz do que eu,

(poupa-nos do encanto)

e caí prostrada

a chorar:

tu, que nos laceraste

com tuas flores,

poupa-nos da beleza

das árvores frutíferas.

 

As colheitadeiras de mel

não pararam,

o ar troava o seu canto,

e só eu estava prostrada.

 

Ó deus do pomar,

de rústico talhe,

trago-te uma oferenda –

tu, solitário e pouco atraente,

filho de deus,

poupa-nos do encanto:

 

estas avelãs caídas,

recém-despojadas de suas cascas verdes,

uvas de um vermelho-púrpura,

suas bagas

pingando vinho,

romãs já partidas,

figos mirrados

e marmelos intactos –

eis o que te trago como oferenda.

 

Em: “Jardim do Mar” (1912-1916)

 

Referência:

 

DOOLITTLE, Hilda (H. D.). Orchard. In: __________. Collected poems of H. D. 6th print. New York, NY: Liveright Publishing Corporation, aug. 1940. p. 40-41.

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