A poetisa cria
contrastes entre o que é belo e a sua proximidade com o desvanecimento, o
encanto de um exuberante pomar e a simplicidade parcamente polida de um deus
que o preside: tudo nos leva a crer que o sentido do poema seja denotar a excruciante
proximidade de um estado de êxtase em razão da beleza à finitude de tudo quanto
existe, motivo pelo qual a voz lírica reforça a ideia de que prefere ser
poupada a tamanho enleio.
A oferenda da falante
ao precitado deus não é outra senão os frutos que se destacam das árvores do
horto. Quase se equivalem, em se tratando de uma mulher prostrada frente ao
supradito encanto, a um filho como oblata ao eterno, para que se digne permitir
posteridade e protraimento às experiências terrenas.
J.A.R. – H.C.
Hilda Doolittle
(1886-1961)
Orchard
I saw the first pear
as it fell –
the honey-seeking,
golden-banded,
the yellow swarm
was not more fleet
than I,
(spare us from
loveliness)
and I fell prostrate
crying:
you have flayed us
with your blossoms,
spare us the beauty
of fruit-trees.
The honey-seeking
paused not,
the air thundered
their song,
and I alone was
prostrate.
O rough hewn
god of the orchard,
I bring you an
offering –
do you, alone
unbeautiful,
son of the god,
spare us from
loveliness:
these fallen
hazel-nuts,
stripped late of
their green sheaths,
grapes, red-purple,
their berries
dripping with wine,
pomegranates already
broken,
and shrunken fig
and quinces
untouched,
I bring you as
offering.
In: “Sea Garden” (1912-1916)
Pomar de Macieiras
(Carl Larsson: pintor
sueco)
Pomar
Vi a primeira pera
enquanto caía –
as colheitadeiras de mel,
o estriado dourado,
a colmeia amarela,
nada era mais fugaz
do que eu,
(poupa-nos do encanto)
e caí prostrada
a chorar:
tu, que nos laceraste
com tuas flores,
poupa-nos da beleza
das árvores frutíferas.
As colheitadeiras de
mel
não pararam,
o ar troava o seu
canto,
e só eu estava
prostrada.
Ó deus do pomar,
de rústico talhe,
trago-te uma oferenda
–
tu, solitário e pouco
atraente,
filho de deus,
poupa-nos do encanto:
estas avelãs caídas,
recém-despojadas de suas
cascas verdes,
uvas de um vermelho-púrpura,
suas bagas
pingando vinho,
romãs já partidas,
figos mirrados
e marmelos intactos –
eis o que te trago
como oferenda.
Em: “Jardim do Mar” (1912-1916)
Referência:
DOOLITTLE, Hilda (H.
D.). Orchard. In: __________. Collected poems of H. D. 6th print. New
York, NY: Liveright Publishing Corporation, aug. 1940. p. 40-41.
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