Lançando mão de uma
ironia reversa, a poetisa tenta mostrar o quanto o mundo das mulheres segue as balizas
das restrições impostas pelos homens, num espaço restrito como as celas de uma
prisão, onde elas vivenciam as suas hesitações e as rigidezes de suas crenças, dando
pouca margem à expressão saudável de suas emoções.
Não indômitas, mas
domesticadas; não perdulárias, mas frugais; não expostas ao quotidiano do mundo
urbano ou rural, mas limitadas em seus movimentos e experiências; inaptas a um
amor na medida certa, pois que a se revelar premido ou frouxo demais. Frente a
esse quadro, não sem razão, a voz lírica preconiza às mulheres que, vislumbrando
que muito do melhor que a vida possa oferecer esteja para além da soleira de
suas portas, que se permitam ir ao encontro de tais venturas.
J.A.R. – H.C.
Louise Bogan
(1897-1970)
Women
Women have no
wilderness in them,
They are provident
instead,
Content in the tight
hot cell of their hearts
To eat dusty bread.
They do not see
cattle cropping red winter grass,
They do not hear
Snow water going down
under culverts
Shallow and clear.
They wait, when they
should turn to journeys,
They stiffen, when they
should bend.
They use against
themselves that benevolence
To which no man is
friend.
They cannot think of
so many crops to a field
Or of clean wood
cleft by an axe.
Their love is an
eager meaninglessness
Too tense, or too
lax.
They hear in every
whisper that speaks to them
A shout and a cry.
As like as not, when
they take life over their door-sills
They should let it go
by.
Duas Mulheres à
Janela
(Bartolomé E. Murillo:
pintor espanhol)
Mulheres
Não há desperdícios
nas mulheres,
Pelo contrário, são
elas frugais,
Satisfeitas na cálida
e estreita cela de seus corações,
Mesmo que se alimentem
com pão pulverulento.
Não veem o gado a
pastar a invernal relva avermelhada,
Não ouvem
A água descongelada
da neve descendo às galerias
Nítidas e pouco
profundas.
Elas se demoram, em
vez de empreender jornadas,
Enrijecem, quando deveriam
manter-se flexíveis.
Empregam contra si
mesmas aquela benevolência
A que nenhum homem é
propenso.
Não chegam a cogitar nas
muitas segas de um só campo
Ou na madeira fendida
e desbastada por um machado.
O amor que expressam
é um ansioso sem sentido,
Muito tenso ou relaxado
demais.
Elas ouvem em cada sussurro
que se lhes dirigem
Um grito e um pranto.
Assentindo ou não, ao
deduzirem a vida para além
do limiar de suas
portas,
Deveriam deixá-la que
o transponha.
Referência:
BOGAN, Louise. Women.
In: RATTINER, Susan L. (Ed.). Great poems by american women: an
anthology. 1st ed. Mineola, NY: Dover Publications, 1998. p. 216. (Dover Thrift
Editions: Poetry)
❁
Excelente blog.
ResponderExcluirPrezado(a): muito grato pelo apoio. João A. Rodrigues
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