Rembrandt (1606-1669)
pintou mais de 80 (oitenta) autorretratos, como o que ora ilustra esta postagem,
tentando captar os traços do rosto e, talvez mais que isso, o que lhe ia na
mente, seus pensamentos e emoções:
Sua série de autorretratos
forma um completo estudo autobiográfico de si mesmo, indo desde os soberbos e
elegantes da juventude, até os sombrios e sóbrios dos últimos anos, em que nos
proporciona uma análise inflexível das vaidades humanas. (STUIVELING, s.d., p.
63)
Vestdijk, poeta e
romancista conterrâneo de Rembrandt, busca transmutar em versos o que se plasma
num desses autorretratos do artista já envelhecido, como se a mensagem transmitida
pelas imagens alertasse os jovens sobre os efeitos corrosivos da passagem do
tempo, não mais o da estação florescente e fecundante, senão o da irrupção da decadência
e da invernia.
J.A.R. – H.C.
Simon Vestdijk
(1898-1971)
Zelfportret
Wacht u voor deze
grijns, dit is de oude
Niet meer, de
onvergankelijke niet meer.
Dit is de hoonlach
die wij overhouden
Als ’t leven
voortkruipt na de ommekeer.
Niet meer het
veelbewogen bloeien, zeer
In trek bij de
tuinieren van de Gouden
Lusthof, niet meer de
spelen van mooi weer
En mooie meisjes, die
óók bloeien zouden.
Triomf der
tandloosheid: grijsaards bijten
Wel feller dan de
trotse jonglingschap:
Zij bijten met hun
rimpels en hun ogen,
Die, héél ver af, de
bloeienden verwijten
Dat ze in de lentewind
zijn weggevlogen
En niet meer lachen
om de satansgrap.
Uit: “Rembrandt en de
engelen” (1956)
Autorretrato
(c. 1662)
(Rembrandt van Rijn:
pintor holandês)
Autorretrato
Do amargo rir te
guarda, isto não é
Já o velho, o que
passou.
Este é o cortante
riso que nos restou
Quando uma vida se
dobra à velhice.
Não mais os brotos
movimentados,
Amados dos
jardineiros do Éden
Dourado, não mais
encantos de tempo bom
E belas moças, também
brotando.
Triunfo da falta de
dentes: os velhos mordem,
Porém mais forte que
o jovem orgulhoso:
Pois mordem com suas
rugas, seus olhos
E dão, de longe,
exemplo aos jovens
Que então fugiram ao
vento da primavera
E não mais se riram
das piadas de Satã.
Em: “Rembrandt e os
anjos” (1956)
Referências:
Em Holandês
VESTDIJK, Simon. Zelfportret.
Disponível neste endereço. Acesso
em: 20 nov. 2023.
Em Português
VESTDIJK, Simon.
Autorretrato. Tradução de Zélia Couto. In: STUIVELING,
Garmt. Excursão através da literatura holandesa. Tradução de Carlos
Cotrim. Hilversum, NL: Radio Nederland Wereldomroep, s.d. p. 63-64.
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