Uma síncope de alguém
que se vê nas alturas, mas que, mesmo em sua volubilidade, pensa estar segura
de que não haverá de retornar a cotas mais modestas, embora tal perspectiva não
seja, de modo algum, descartável, pois que se trata de uma “borboleta” que galgou
alturas insustentáveis e o mais certo é que, mais cedo ou mais tarde, vá ter
com as outras, cingidas em legiões sem salvaguardas, à base desse pedestal.
Poder-se-ia associar
o tema do poema ao círculo vertiginoso do narcisismo em certas pessoas,
apegadas ao poder, às posses e à fama, levando-as a perder o contato com a realidade,
a capacidade de manter um diálogo honesto consigo mesmo e com os outros, incorrendo
numa solidão interior que acaba, muitas vezes, por se externalizar em infringências bizarras
e, até mesmo, defesas.
J.A.R. – H.C.
Larissa Szporluk
(n. 1967)
Vertigo
Sing now.
Sing from on high,
high roof
you’re afraid of
losing. Sing yourself
into
a tiny blue worm,
maybe no eyes,
squeezing its mite
through a tinier
passage, maybe no
outlet, maybe
no light, maybe
you’ll never
ever find light,
and the stars that
you think
in a world of height
there should be
aren’t even stars,
only actors
that swing in the
dark
like paper lanterns
and don’t serve as
guides
as you peer from the
edge
at the people below
without nets;
they don’t know who
you are,
but they’re waiting
in droves
for your butterfly
nerves
to tuck in their
tails
and fold.
Vertigem
(Scott Erwert: pintor
norte-americano)
Vertigem
Canta agora.
Canta a partir do
alto, de um teto alto
do qual tens receio
de privar-te. Canta a
ti mesmo
tal qual um minúsculo
verme azul,
acaso sem olhos,
espremendo seu ácaro
através de uma
passagem ainda mais
diminuta, talvez sem
saída, sem luz
talvez, ao longo da
qual, quem sabe,
jamais encontres luz;
as estrelas que cogitas
poderem existir
num mundo de fastígio
sequer são estrelas, somente
atores
que se agitam no
escuro
como lanternas de papel,
não servindo como
guias,
enquanto olhas
fixamente da borda
as pessoas lá embaixo
sem paládios;
elas não sabem quem
és,
embora aguardem,
em legiões,
que tuas nervuras de
borboleta
retraiam suas pontas
e se dobrem.
Referência:
SZPORLUK, Larissa,
Vertigo. In: __________. Isolato: poems by Larissa Szporluk. Iowa City, IA:
University of Iowa Press, 2000. p. 14.
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