Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 7 de novembro de 2023

Larissa Szporluk - Vertigem

Uma síncope de alguém que se vê nas alturas, mas que, mesmo em sua volubilidade, pensa estar segura de que não haverá de retornar a cotas mais modestas, embora tal perspectiva não seja, de modo algum, descartável, pois que se trata de uma “borboleta” que galgou alturas insustentáveis e o mais certo é que, mais cedo ou mais tarde, vá ter com as outras, cingidas em legiões sem salvaguardas, à base desse pedestal.

 

Poder-se-ia associar o tema do poema ao círculo vertiginoso do narcisismo em certas pessoas, apegadas ao poder, às posses e à fama, levando-as a perder o contato com a realidade, a capacidade de manter um diálogo honesto consigo mesmo e com os outros, incorrendo numa solidão interior que acaba, muitas vezes, por se externalizar em infringências bizarras e, até mesmo, defesas.

 

J.A.R. – H.C.

 

Larissa Szporluk

(n. 1967)

 

Vertigo

 

Sing now.

Sing from on high, high roof

you’re afraid of

losing. Sing yourself into

a tiny blue worm,

maybe no eyes,

squeezing its mite

through a tinier

passage, maybe no

outlet, maybe

no light, maybe you’ll never

ever find light,

and the stars that you think

in a world of height

there should be

aren’t even stars, only actors

that swing in the dark

like paper lanterns

and don’t serve as guides

as you peer from the edge

at the people below

without nets;

they don’t know who you are,

but they’re waiting

in droves

for your butterfly nerves

to tuck in their tails

and fold.

 

Vertigem

(Scott Erwert: pintor norte-americano)

 

Vertigem

 

Canta agora.

Canta a partir do alto, de um teto alto

do qual tens receio

de privar-te. Canta a ti mesmo

tal qual um minúsculo verme azul,

acaso sem olhos,

espremendo seu ácaro

através de uma passagem ainda mais

diminuta, talvez sem

saída, sem luz

talvez, ao longo da qual, quem sabe,

jamais encontres luz;

as estrelas que cogitas

poderem existir

num mundo de fastígio

sequer são estrelas, somente atores

que se agitam no escuro

como lanternas de papel,

não servindo como guias,

enquanto olhas fixamente da borda

as pessoas lá embaixo

sem paládios;

elas não sabem quem és,

embora aguardem,

em legiões,

que tuas nervuras de borboleta

retraiam suas pontas

e se dobrem.

 

Referência:

 

SZPORLUK, Larissa, Vertigo. In: __________. Isolato: poems by Larissa Szporluk. Iowa City, IA: University of Iowa Press, 2000. p. 14.

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