Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 31 de outubro de 2023

Alceu Brito Corrêa - O Poema

A voz lírica, nestes versos, é a do próprio poema, às voltas com o dilema de se autoidentificar, de se nomear, de dizer em que consiste. Explico-me melhor: parece-me menos que seja a fala do poema em si, do elemento gráfico sobre a folha, senão o que se incorpora às linhas, a “substância” de que é composto, vale dizer, a poesia.

 

A “máscara” a que alude o poeta possui infinitas feições – das clássicas às modernistas, das mais atreladas a regras às desamarradas de quaisquer estatutos. E claro: nem sempre o poema surge espargindo pelos ares o vermelho do estrôncio – como “a Rosa de Hiroshima, vermelha e fatal” –, sendo este apenas um dos muitos teores do poema de “n” faces.

 

J.A.R. – H.C.

 

Alceu Brito Corrêa

(n. 1946)

 

O Poema

 

a Mário Quintana

a Manuel Bandeira

a Fernando Pessoa

 

Quem és tu?

– Eu?, sou a ânsia de saber quem sou;

o esgar de minha boca

não é meu.

Herdei não sei bem de quem.

 

– Eu?, vim com a chuva de Stroncio,

sou a Rosa de Hiroshima,

vermelha e fatal.

 

Quem és tu, afinal?

– Eu?, não tenho face,

uso essa estranha máscara,

mais verdadeira e real

do que minha própria face,

se a tivesse...

 

A Máscara

(Krzysztof Iwin: artista polonês)

 

Referência:

 

CORRÊA, Alceu Brito. O poema. In: __________. Epiciclo. Rio de Janeiro, RJ: Blocos, 2002. p. 09.

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