A voz lírica, nestes versos,
é a do próprio poema, às voltas com o dilema de se autoidentificar, de se nomear,
de dizer em que consiste. Explico-me melhor: parece-me menos que seja a fala do
poema em si, do elemento gráfico sobre a folha, senão o que se incorpora às
linhas, a “substância” de que é composto, vale dizer, a poesia.
A “máscara” a que
alude o poeta possui infinitas feições – das clássicas às modernistas, das mais
atreladas a regras às desamarradas de quaisquer estatutos. E claro: nem
sempre o poema surge espargindo pelos ares o vermelho do estrôncio – como “a
Rosa de Hiroshima, vermelha e fatal” –, sendo este apenas um dos muitos teores
do poema de “n” faces.
J.A.R. – H.C.
Alceu Brito Corrêa
(n. 1946)
O Poema
a Mário Quintana
a Manuel Bandeira
a Fernando Pessoa
Quem és tu?
– Eu?, sou a ânsia de
saber quem sou;
o esgar de minha boca
não é meu.
Herdei não sei bem de
quem.
– Eu?, vim com a
chuva de Stroncio,
sou a Rosa de
Hiroshima,
vermelha e fatal.
Quem és tu, afinal?
– Eu?, não tenho
face,
uso essa estranha
máscara,
mais verdadeira e
real
do que minha própria
face,
se a tivesse...
A Máscara
(Krzysztof Iwin:
artista polonês)
Referência:
CORRÊA, Alceu Brito. O poema. In: __________. Epiciclo. Rio de Janeiro, RJ: Blocos, 2002. p. 09.
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