Simpson deplora o
fato de ter que viver num estilo de vida insípido, carente de emoções
saudáveis. Ainda assim, reconhece que o seu mister muito tem a ver em deixar
aflorar o seu afeto pelas pessoas sobre as quais e para quem escreve os seus
poemas, mesmo que tal estima não seja correspondida pela comunidade
destinatária: “Amar e escrever, sem ser correspondido, é o destino do poeta”!
Percebam-se as
inflexões impregnadas nos versos, a contraporem, de um lado, um pendor ao
“ardor” e à “engenhosidade” – reportando-se, claro está, à sutileza e ao
refinamento nas percepções e na escrita do poeta –, e, de outro, a platitude de
um estilo de vida suburbano, bem à feição da cultura norte-americana, sob o
qual as massas anônimas se consomem nas chamas de uma lida de agastamentos e de
formalidades.
J.A.R. – H.C.
Louis Simpson
(1923-2012)
The unwritten poem
You will never write
the poem about Italy.
What Socrates said
about love
is true of poetry –
where is it?
Not in beautiful
faces and distant scenery
but the one who
writes and loves.
In your life here, on
this street
where the houses from
the outside
are all alike, and so
are the people.
Inside, the furniture
is dreadful –
flock on the walls,
and huge color television.
To love and write
unrequited
is the poet's fate.
Here you’ll need
all your ardor and
ingenuity.
This is the front and
these are the heroes –
a life beginning with
“Hi!” and ending with “So long!”
You must rise to the
sound of the alarm
and march to catch
the 6:20 –
watch as they ascend
the station platform
and, grasping
briefcases, pass beyond your gaze
and hurl themselves
into the flames.
Em uma varanda
veneziana
(Antonio Paoletti: pintor
italiano)
O poema não escrito
Nunca escreverás o
poema sobre a Itália.
O que Sócrates afirmou
sobre o amor
é válido para a
poesia – onde ela se encontra?
Não em belos rostos e
paisagens distantes,
senão naquele que
escreve e ama.
Em tua vida aqui,
nesta rua
onde as casas pelo
lado de fora
são todas iguais,
assim como as pessoas.
Por dentro, horrendos
são os móveis –
amontoam-se junto às
paredes, ao redor
de uma enorme
televisão em cores.
Amar e escrever, sem
ser correspondido,
é o destino do poeta.
Aqui necessitarás
de todo o teu ardor e
engenhosidade.
Este é o front
e eis os heróis –
uma vida que começa
com “Oi”
e termina com “Até
mais!”
Deves te levantar ao
som do alarme
e marchar para pegar
o trem das 6h 20 –
observa como todos se
dirigem à plataforma da estação
e, agarrando-se às
pastas, transpõem o teu olhar
e se lançam às
chamas.
Referência:
SIMPSON, Louis. The
unwritten poem. In: __________. The owner of the house: new collected
poems 1940-2001. Rochester, NY: BOA Editions, 2003. p. 342. (‘American Poets
Continuum Series’; n. 78)
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