Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 28 de outubro de 2023

Louis Simpson - O poema não escrito

Simpson deplora o fato de ter que viver num estilo de vida insípido, carente de emoções saudáveis. Ainda assim, reconhece que o seu mister muito tem a ver em deixar aflorar o seu afeto pelas pessoas sobre as quais e para quem escreve os seus poemas, mesmo que tal estima não seja correspondida pela comunidade destinatária: “Amar e escrever, sem ser correspondido, é o destino do poeta”!

 

Percebam-se as inflexões impregnadas nos versos, a contraporem, de um lado, um pendor ao “ardor” e à “engenhosidade” – reportando-se, claro está, à sutileza e ao refinamento nas percepções e na escrita do poeta –, e, de outro, a platitude de um estilo de vida suburbano, bem à feição da cultura norte-americana, sob o qual as massas anônimas se consomem nas chamas de uma lida de agastamentos e de formalidades.

 

J.A.R. – H.C.

 

Louis Simpson

(1923-2012)

 

The unwritten poem

 

You will never write the poem about Italy.

What Socrates said about love

is true of poetry – where is it?

Not in beautiful faces and distant scenery

but the one who writes and loves.

 

In your life here, on this street

where the houses from the outside

are all alike, and so are the people.

Inside, the furniture is dreadful –

flock on the walls, and huge color television.

 

To love and write unrequited

is the poet's fate. Here you’ll need

all your ardor and ingenuity.

This is the front and these are the heroes –

a life beginning with “Hi!” and ending with “So long!”

 

You must rise to the sound of the alarm

and march to catch the 6:20 –

watch as they ascend the station platform

and, grasping briefcases, pass beyond your gaze

and hurl themselves into the flames.

 

Em uma varanda veneziana

(Antonio Paoletti: pintor italiano)

 

O poema não escrito

 

Nunca escreverás o poema sobre a Itália.

O que Sócrates afirmou sobre o amor

é válido para a poesia – onde ela se encontra?

Não em belos rostos e paisagens distantes,

senão naquele que escreve e ama.

 

Em tua vida aqui, nesta rua

onde as casas pelo lado de fora

são todas iguais, assim como as pessoas.

Por dentro, horrendos são os móveis –

amontoam-se junto às paredes, ao redor

de uma enorme televisão em cores.

 

Amar e escrever, sem ser correspondido,

é o destino do poeta. Aqui necessitarás

de todo o teu ardor e engenhosidade.

Este é o front e eis os heróis –

uma vida que começa com “Oi”

e termina com “Até mais!”

 

Deves te levantar ao som do alarme

e marchar para pegar o trem das 6h 20 –

observa como todos se dirigem à plataforma da estação

e, agarrando-se às pastas, transpõem o teu olhar

e se lançam às chamas.

 

Referência:

 

SIMPSON, Louis. The unwritten poem. In: __________. The owner of the house: new collected poems 1940-2001. Rochester, NY: BOA Editions, 2003. p. 342. (‘American Poets Continuum Series’; n. 78)

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