“Os pobres, nós os
fizemos assim”: embora Mendes se refira aos indigentes de “qualquer parte do
mundo”, no particular, o cenário por ele apontado muito se aplica ao Brasil, depois
de alguns anos sendo o país presidido por um homem sem qualquer empatia com o
povo, dir-se-ia psicopata até, tantas as barbaridades por ele ditas e praticadas.
O fato é que o
contingente de pessoas vivendo literalmente nas ruas de Pindorama cresceu vertiginosamente,
a revelar o desperdício do potencial humano neste torrão, sem contar o ultraje
de se negar dignidade ou mesmo uma promessa factível de futuro para os mais vulneráveis.
De outra parte, tende também a crescer a insegurança dos demais cidadãos, pois a
divisão desequilibrada dos bens e serviços de um povo não deixa de suscitar as
suas nocivas externalidades.
J.A.R. – H.C.
Murilo Mendes
(1901-1975)
Os Pobres
Chegam nus, chegam
famintos
À grade dos nossos
olhos.
Expulsos da
tempestade de fogo
Vêm de qualquer parte
do mundo,
Ancoram na nossa
inércia.
Precisam de olhos
novos, de outras mãos,
Precisam de arados e
sapatos,
De lanternas e bandas
de música,
Da visão do Licorne (*)
E da comunidade com
Jesus.
Os pobres nus e
famintos
Nós os fizemos assim.
Em: “Poesia Liberdade”
(1943-1945)
Rota e Andrajosa
(Alfred Kappes:
pintor norte-americano)
Nota:
(*). Licorne: o mesmo que “unicórnio”.
Referência:
MENDES, Murilo. Os
pobres. In: TRINDADE, Maria Magaly; AQUINO, Zélia Maria Thomaz de; BELLODI
SILVA, Zina (Seleção e Organização). Antologia de antologias: 101 poetas
brasileiros “revisitados”. Prefácio de Alfredo Bosi. São Paulo, SP: Musa
Editora, 1995. p. 477.
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