Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 11 de outubro de 2023

Murilo Mendes - Os Pobres

“Os pobres, nós os fizemos assim”: embora Mendes se refira aos indigentes de “qualquer parte do mundo”, no particular, o cenário por ele apontado muito se aplica ao Brasil, depois de alguns anos sendo o país presidido por um homem sem qualquer empatia com o povo, dir-se-ia psicopata até, tantas as barbaridades por ele ditas e praticadas.

 

O fato é que o contingente de pessoas vivendo literalmente nas ruas de Pindorama cresceu vertiginosamente, a revelar o desperdício do potencial humano neste torrão, sem contar o ultraje de se negar dignidade ou mesmo uma promessa factível de futuro para os mais vulneráveis. De outra parte, tende também a crescer a insegurança dos demais cidadãos, pois a divisão desequilibrada dos bens e serviços de um povo não deixa de suscitar as suas nocivas externalidades.

 

J.A.R. – H.C.

 

Murilo Mendes

(1901-1975)

 

Os Pobres

 

Chegam nus, chegam famintos

À grade dos nossos olhos.

Expulsos da tempestade de fogo

Vêm de qualquer parte do mundo,

Ancoram na nossa inércia.

 

Precisam de olhos novos, de outras mãos,

Precisam de arados e sapatos,

De lanternas e bandas de música,

Da visão do Licorne (*)

E da comunidade com Jesus.

 

Os pobres nus e famintos

Nós os fizemos assim.

 

Em: “Poesia Liberdade” (1943-1945)

 

Rota e Andrajosa

(Alfred Kappes: pintor norte-americano)

 

Nota:

 

(*). Licorne: o mesmo que “unicórnio”.

 

Referência:

 

MENDES, Murilo. Os pobres. In: TRINDADE, Maria Magaly; AQUINO, Zélia Maria Thomaz de; BELLODI SILVA, Zina (Seleção e Organização). Antologia de antologias: 101 poetas brasileiros “revisitados”. Prefácio de Alfredo Bosi. São Paulo, SP: Musa Editora, 1995. p. 477.

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