Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 14 de outubro de 2023

Dilermando Rocha - A invenção de Agostinho

Transcrito de um poemário todo ele dedicado a entoar encômios a grandes nomes da resistência negra, nos mais distintos ramos da atividade humana – a literatura aí inclusa –, estes versos sublinham, em sua reiteração anafórica, a força anímica que fez de Agostinho Neto uma referência em relação a tudo quanto fora idealizado (o poeta emprega o verbo “inventar”, enfatizando, assim, a acepção de uma imaginação criadora) para uma Angola em estado de gestação.

 

Poeta e escritor por vocação, Agostinho era médico por profissão, muito embora tenha se tornado mais conhecido por sua atuação política, ao tomar parte no Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA) e, depois, uma vez superada a luta anticolonialista contra o domínio português, assumir o posto de primeiro presidente do país (1975-1979).

 

J.A.R. – H.C.

 

Dilermando Rocha

(n. 1932)

 

A invenção de Agostinho

 

Agostinho Neto inventou

com seu amplo espírito

músculos e nervos eletrizados

pela dor das massas

a força angolana

para conquistar a Pátria.

 

Agostinho inventou

a construção do próprio país

usando o cheiro dos troncos

dos bosques e das florestas

para habitar as casas do povo.

 

Agostinho inventou

a liberdade nas estradas negreiras

rompendo correntes seculares

 

e inventou também poemas

que foram cantos de festas

na dança dos corpos

livres de seus guerrilheiros.

 

Agostinho inventou

o amor em Angola

quando as lágrimas terminaram

deixando seus olhos secos.

 

Agostinho Neto

(1922-1979)

 

Referência:

 

ROCHA, Dilermando. A invenção de Agostinho. In: __________. Irmão preto: poemas. 2. ed. ampl. São Paulo, SP: João Scortecci Editora, 1996. p. 17.

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