Transcrito de um
poemário todo ele dedicado a entoar encômios a grandes nomes da resistência
negra, nos mais distintos ramos da atividade humana – a literatura aí inclusa
–, estes versos sublinham, em sua reiteração anafórica, a força anímica que fez
de Agostinho Neto uma referência em relação a tudo quanto fora idealizado (o
poeta emprega o verbo “inventar”, enfatizando, assim, a acepção de uma imaginação
criadora) para uma Angola em estado de gestação.
Poeta e escritor por
vocação, Agostinho era médico por profissão, muito embora tenha se tornado mais
conhecido por sua atuação política, ao tomar parte no Movimento Popular para a
Libertação de Angola (MPLA) e, depois, uma vez superada a luta anticolonialista
contra o domínio português, assumir o posto de primeiro presidente do país
(1975-1979).
J.A.R. – H.C.
Dilermando Rocha
(n. 1932)
A invenção de
Agostinho
Agostinho Neto
inventou
com seu amplo
espírito
músculos e nervos eletrizados
pela dor das massas
a força angolana
para conquistar a
Pátria.
Agostinho inventou
a construção do
próprio país
usando o cheiro dos
troncos
dos bosques e das
florestas
para habitar as casas
do povo.
Agostinho inventou
a liberdade nas
estradas negreiras
rompendo correntes
seculares
e inventou também
poemas
que foram cantos de
festas
na dança dos corpos
livres de seus
guerrilheiros.
Agostinho inventou
o amor em Angola
quando as lágrimas
terminaram
deixando seus olhos
secos.
Agostinho Neto
(1922-1979)
Referência:
ROCHA, Dilermando. A invenção de Agostinho. In: __________. Irmão preto: poemas. 2. ed. ampl. São Paulo, SP: João Scortecci Editora, 1996. p. 17.
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