Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Carlos Drummond de Andrade - Poesia

Menos que um poema propriamente dito, senão um rápido comento sobre um embate no domínio do pensamento, estas linhas de Drummond, insertas em seu primeiro poemário – “Alguma Poesia”, de 1930 –, também se situam no domínio da poesia que não logrou chegar à pauta da página, muito embora o momento em que intuída insista em inundar a “vida inteira” do poeta.

 

Os versos introdutórios tornam manifesta a complexidade existente no ato de se refletir sobre um determinando tema e convertê-lo em palavras apropriadas, das quais se possa haurir o mesmo conteúdo poético apreendido pelo poeta. Às vezes, tal não acontece e, então, revela-se o informe: o verso restou aprisionado – inquieto e vivo – na mente do autor e teima em não aflorar.

 

J.A.R. – H.C.

 

Carlos D. de Andrade

(1902-1987)

 

Poesia

 

Gastei uma hora pensando um verso

que a pena não quer escrever.

No entanto ele está cá dentro

inquieto, vivo.

Ele está cá dentro

e não quer sair.

Mas a poesia deste momento

inunda minha vida inteira.

 

Em: “Alguma poesia” (1930)

 

Ela escreve

(Robin W. Altman: artista norte-americana)

 

Referência:

 

ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia. In: __________. Poesia completa. Rio de Janeiro, RJ: Nova Aguilar, 2003. p. 21.

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