Menos que um poema
propriamente dito, senão um rápido comento sobre um embate no domínio do
pensamento, estas linhas de Drummond, insertas em seu primeiro poemário – “Alguma
Poesia”, de 1930 –, também se situam no domínio da poesia que não logrou chegar
à pauta da página, muito embora o momento em que intuída insista em inundar a “vida
inteira” do poeta.
Os versos introdutórios
tornam manifesta a complexidade existente no ato de se refletir sobre um
determinando tema e convertê-lo em palavras apropriadas, das quais se possa haurir
o mesmo conteúdo poético apreendido pelo poeta. Às vezes, tal não acontece e,
então, revela-se o informe: o verso restou aprisionado – inquieto e vivo – na
mente do autor e teima em não aflorar.
J.A.R. – H.C.
Carlos D. de
Andrade
(1902-1987)
Poesia
Gastei uma hora
pensando um verso
que a pena não quer
escrever.
No entanto ele está
cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste
momento
inunda minha vida
inteira.
Em: “Alguma poesia”
(1930)
Ela escreve
(Robin W. Altman: artista
norte-americana)
Referência:
ANDRADE, Carlos
Drummond de. Poesia. In: __________. Poesia completa. Rio de Janeiro,
RJ: Nova Aguilar, 2003. p. 21.
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