Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 30 de outubro de 2023

Nora Didier de Iungman - Imobilidade do Cativeiro

Aludindo a enredos míticos, como os confrontos entre Aquiles e Heitor ou entre Teseu e o Minotauro, ou mesmo históricos, a exemplo do campo de extermínio de Treblinka, na Polônia, a poetisa e professora argentina discorre sobre a própria história da humanidade, a manar feito uma sucessão inalterável de resgates dos mortais ao cativeiro, mas que não logra mantê-los em estado de plena lucidez, porque há aqueles que sempre optam por retornar ao interior da platônica caverna do ilusório (ou mesmo se recusam a sair de lá).

 

Ora veja o internauta o quanto o tema do poema se correlaciona à replicada máxima do pensador genebrino Rousseau (1712-1778) – “O homem nasce livre e por toda parte encontra-se a ferros.” –, ou mesmo ao escopo de obras seminais, como o “Discurso da Servidão Voluntária”, do francês Étienne de La Boétie (1530-1563), e “O Medo à Liberdade”, do alemão Erich Fromm (1900-1980)! Como diria Sartre (1905-1980), estamos “condenados” à liberdade, mas parece que preferimos abrir mão da reponsabilidade que a ela se concatena.

 

J.A.R. – H.C.

 

Nora D. de Iungman

(n. 1948)

 

Inmovilidad del Cautiverio

 

Toda la noche

hemos estado habitando

una ingenuidad en luz

definitivamente oblicua.

 

Allí surgió la cólera

de Aquiles

la lección de Teseo

los campos de Treblimka

o el cadáver de Héctor

por las murallas de Troya.

 

Toda la noche

hemos estado cubriendo

como un agua sutil

la libertad rescatada

del sueño.

Y aquí todavía los templos

acunan el canto

de los dioses.

 

Quizás nadie llore

la rectitud de los ojos

permitidos en piedra.

Pero hay un oído incierto

de voces

que percibe desde lejos

desde entonces

desde siempre

la inmovilidad

del cautiverio.

 

Escavações em Hissarlik

(William Simpson: artista escocês)

 

Imobilidade do Cativeiro

 

Toda a noite

temos habitado

uma ingenuidade em luz

definitivamente oblíqua.

 

Ali surgiu a cólera

de Aquiles

a lição de Teseu

os campos de Treblinka

ou o cadáver de Heitor

junto às muralhas de Troia.

 

Toda a noite

temos coberto

como uma água sutil

a liberdade resgatada

ao sono.

E aqui ainda os templos

embalam o canto

dos deuses.

 

Talvez ninguém chore

a retidão dos olhos

permitidos em pedra.

Porém há um ouvido incerto

de vozes

que percebe de longe

desde então

desde sempre

a imobilidade

do cativeiro.

 

Referência:

 

IUNGMAN, Nora Didier de. Inmovilidad del cautiverio. In: ABALO, Edgardo A. et alii. Luz inagotable: antología S.A.D.E. (Sociedad Argentina de Escritores). Santa Fe, AR: Imprenta de la Universidad Nacional del Litoral, oct. 1997. p. 95.

Nenhum comentário:

Postar um comentário