Neste hipotético
diálogo entre os interlocutores de um programa de televisão – de um lado, o
poeta, convidado a discursar sobre o que julga ser pertinente em seu mister e,
de outro, o impaciente espectador imaginário –, percebe-se a intenção do autor
em sustentar o quanto a poesia está presa à fragilidade do momento, sendo manifestação
acessória no livre curso da história, sem delongas relegada a um cenário limitado,
bem aquém das sendas onde manam os grandes temas do quotidiano.
Diante da urgência da
comunicação midiática, quaisquer diálogos metapoéticos ou saraus de poesias que
ultrapassem a simples escala de alguns minutos suscitam a ânsia de mudar de
canal no espectador: sem destinatários receptivos, a poesia míngua em sua
capacidade de atingir o grande público, dando razões àqueles que apoiam a tese
de que se encontra nos estertores.
J.A.R. – H.C.
José Emilio Pacheco
(1939-2014)
Minuto cultural en la
televisión para
hablar del porvenir
de la poesía
(se ilustra con
dibujos animados)
Reloj de arena: encarnación
del tiempo
que se va a cada
instante.
Se vacía de nosotros.
Está pasando siempre
y no vuelve.
Oiga, no continúe.
Bien lo sabemos.
Hoy el reloj de arena
ya no es la imagen del tiempo:
figura en todas
partes el reloj digital
en donde sólo da la
cara el instante.
A semejanza del reloj
de arena,
durante muchos siglos
la poesía...
Basta: salte ese
passaje
o cambiaré de canal
para cerrarle la
boca.
Está bien, está bien.
Disculpe
que yo abuse de su
impaciencia.
Terminaré en un
segundo.
Ese reloj poético de
arena,
esa filosofía de
bulto que hizo tangible el passo
del tiempo,
ahora está reducido a
la cocina
para medir los tres
minutos justos
en que el agua y el
fuego hacen un pacto
y juntos reconvierten
los embriones de pollo
en un plato llamado
huevos tibios.
Ampulheta
(Anatoly Baratynsky:
artista israelo-russo)
Minuto cultural na
televisão para
falar do porvir da
poesia
(ilustrado com
desenhos animados)
Ampulheta: encarnação
do tempo
que se vai a cada
instante.
Esvazia-se de nós.
Está sempre passando
e não retorna.
Ouça, não continue.
Bem o sabemos.
Hoje a ampulheta já
não é a imagem do tempo:
o relógio digital
aparece em toda parte
onde apenas o
instante mostra a sua face.
À semelhança da
ampulheta,
durante muitos
séculos, a poesia...
Basta: pule essa
passagem
ou mudarei de canal
para calar a sua
boca.
Está bem, está bem.
Desculpe-me
por abusar de sua
impaciência.
Terminarei em um segundo.
Essa poética
ampulheta,
essa filosofia
copiosa que tornou tangível
a passagem do tempo,
agora está reduzida à
cozinha
para medir os exatos
três minutos
em que a água e o
fogo fazem um pacto
e juntos reconvertem
os embriões de galinha
em um prato chamado
ovos escalfados.
Referência:
PACHECO, José Emilio.
Minuto cultural en la televisión para hablar del porvenir de la poesía (se
ilustra con dibujos animados). In: __________. El silencio de la luna: poemas
(1985-1996). 3. ed. ampl., 1. reimp. México, D.F.: Ediciones Era, 2007. p. 66.
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