As palavras têm poder
para nos levar adiante ou nos fazer retroceder, para construir ou para
destruir, para veicular a verdade ou para propagar a mentira: o poema, tendo
sido escrito por Merton em meados da primeira metade dos anos quarenta do
século passado, logo nos remete à propaganda nazista de então, cuja vulgata anunciava
que “uma mentira dita mil vezes torna-se verdade”.
E o que dizer do “mau
uso das palavras” na sociedade contemporânea, na qual falsas notícias (“fake news”)
tomam de assalto a mente dos indivíduos, tornando-os acríticos, sem quaisquer
cuidados para levar à frente uma pesquisa sobre as fontes que as emitiram,
tampouco sobre os interesses por trás de sua veiculação?!
É a exposição parva à
necrose completa dos neurônios, num cenário nauseabundo cujas tintas são ainda
mais turvas que quaisquer das distopias concebidas por um símil de Orwell! Valha-nos
quem?
J.A.R. – H.C.
Thomas Merton
(1915-1968)
Tower of Babel
The Political Speech
History is a dialogue
between
forward and backward
going inevitably
forward
by the misuse of
words.
Now the function of
the word is:
To designate first
the machine.
Then what the machine
produces
Then what the machine
destroys.
Words show us these
things not only in order to mean them
But in order to
provoke them
And to incorporate us
in their forward movement:
Doing, making,
destroy or rather
Being done, being
made, being destroyed.
Such is history.
The forgotten
principle is that the machine
Should always destroy
the maker of the machine
Being more important
than the maker
Insofar as man is more
important than God.
Words also reflect
this principle
Though they are meant
to conceal it
From the ones who are
too young to know.
Thus words have no
essential meaning.
They are means of
locomotion
From backward to
forward
Along an infinite
horizontal plane,
Created by the
history which they themselves destroy.
They are the makers
of our only reality
The backward-forward
working of the web
The movement into the
web.
In: “Early Poems”
(1940-1942)
Diferentes Caminhos
(Aragbada Yinka: artista
nigeriano)
Torre de Babel
O Discurso Político
A história é um
diálogo entre
entre o avanço e o
retrocesso,
que inevitavelmente
se desenrola
pelo mau uso das
palavras.
Agora a função da
palavra é:
Designar primeiro a
máquina.
Depois, o que a
máquina produz,
A seguir, o que a
máquina destrói.
As palavras nos
mostram essas coisas não só para as significar,
Mas também para as
provocar
E nos incorporar ao
seu movimento adiante:
Fazendo, criando,
destruindo – ou melhor –
Sendo feitos, criados,
destruídos.
Assim é a história.
O princípio esquecido
é o de que a máquina
Deve sempre destruir
o fabricante da máquina,
Sendo mais importante
que o criador,
Na medida em que o
homem é mais importante que Deus.
As palavras também
refletem tal princípio,
Embora se destinem a
ocultá-lo
Daqueles que são
muito jovens para o conhecer.
Com efeito, não têm as
palavras um significado essencial.
São meios de
locomoção
De trás para a frente,
Ao longo de um
infinito plano horizontal,
Criado pela história
que elas mesmas destroem.
São as artífices de
nossa única realidade,
Soberanas no ofício
de avanço e de retrocesso da trama,
O próprio movimento
da trama.
Em: “Primeiros
Poemas” (1940-1942)
Referência:
MERTON, Thomas. Tower
of Babel. In: __________. The collected poems of Thomas Merton. 6th
print. New York, NY: New Directions, 1980. p. 21-22.
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