Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Cesare Pavese - Uma Geração

Há nestes versos de Pavese um componente social e político explícito, com potencial para denunciar a violência e a comoção infligidas pelo fascismo: perceba-se que o poema foi redigido em 1934, num momento em que a Itália era comandada por Benito Mussolini (1883-1945), o fundador de tal ideologia, manifestamente ditatorial e totalitária.

 

Há mais que isso: a sensação de que a história se repete pelo seu lado mais sombrio, em que gerações se sucedem quase sem alterar a ordem das coisas, os miúdos se divertindo – ainda que sob os vestígios do perigo – e os homens perpetrando violências, insanidades, tiranias, sob o silêncio angustioso das mulheres.

 

J.A.R. – H.C.

 

Cesare Pavese

(1908-1950)

 

Una Generazione

 

Un ragazzo veniva a giocare nei prati

dove adesso s’allungano i corsi. Trovava nei prati

ragazzotti anche scalzi e saltava di gioia.

Era bello scalzarsi nell’erba con loro.

Una sera di luci lontane echeggiavano spari,

in città, e sopra il vento giungeva pauroso

un clamore interrotto. Tacevano tutti.

Le colline sgranavano punti di luce

sulle coste, avviati dal vento. La notte

che oscurava finiva per spegnere tutto

e nel sonno duravano solo freschezze di vento.

 

(Domattina i ragazzi ritornano in giro

e nessuno ricorda il clamore. In prigione

c’è operai silenziosi e qualcuno è già morto.

Nelle strade han coperto le macchie di sangue.

La città di lontano si sveglia nel sole

e la gente esce fuori. Si guardano in faccia).

I ragazzi pensavano al buio dei prati

e guardavano in faccia le donne. Perfino le donne

non dicevano nulla e lasciavano fare.

I ragazzi pensavano al buio dei prati

dove qualche bambina veniva. Era bello far piangere

le bambine nel buio. Eravamo i ragazzi.

La città ci piaceva di giorno; la sera, tacere

e guardare le luci in distanza e ascoltare i clamori.

 

Vanno ancora ragazzi a giocare nei prati

dove giungono i corsi. E la notte è la stessa.

A passarci si sente l’odore dell’erba.

In prigione ci sono gli stessi. E ci sono le donne

come allora, che fanno bambini e non dicono nulla.

 

(1934)

 

Três Gerações

(Paulus Hoffman: artista holandês)

 

Uma Geração

 

Um guri costumava vir brincar nos prados

onde as ruas agora se estendem. Nos prados encontrava

outros guris também descalços e pulava de alegria.

Era divertido descalçar-se na grama com eles.

Numa noite de luzes distantes, ecoavam disparos

na cidade, e sobre o vento chegava pavoroso

um clamor interrompido. Todos se calavam.

As colinas debulhavam pontos de luz

sobre as costas, excitadas pelo vento. A escuridão

da noite acabava por tudo desvanecer

e no sono só perduravam os frescores do vento.

 

(De manhã, os guris retornam por ali

e ninguém se lembra do clamor. Na prisão

há operários silenciosos e alguém já está morto.

Nas ruas as manchas de sangue foram cobertas.

Ao longe a cidade desperta ao sol

e as pessoas saem porta afora. Entreolham-se.)

Os guris pensavam na escuridão dos prados

e olhavam no rosto as mulheres. Mesmo as mulheres

nada diziam e deixavam que as coisas acontecessem.

Os guris pensavam na escuridão dos prados

onde alguma menina costumava vir. Era divertido

fazer chorar as meninas no escuro. Éramos os guris.

A cidade nos deleitava durante o dia; à noite, silenciar,

olhar as luzes a distância e ouvir os clamores.

 

Os guris ainda vão brincar nos prados

onde as ruas se estendem. E a noite é a mesma.

Passando por ali, pode-se sentir o olor da grama.

Na prisão estão as mesmas pessoas. E há mulheres

como então, que têm filhos e nada dizem.

 

(1934)

 

Referência:

 

PAVESE, Cesare. Una generazione. In: __________. Poesie edite e inedite. A cura di Italo Calvino. Quarta edizione. Torino, IT: Einaudi, maggio 1967. p. 83-84.

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