Há nestes versos de
Pavese um componente social e político explícito, com potencial para denunciar
a violência e a comoção infligidas pelo fascismo: perceba-se que o poema foi
redigido em 1934, num momento em que a Itália era comandada por Benito Mussolini
(1883-1945), o fundador de tal ideologia, manifestamente ditatorial e
totalitária.
Há mais que isso: a
sensação de que a história se repete pelo seu lado mais sombrio, em que gerações
se sucedem quase sem alterar a ordem das coisas, os miúdos se divertindo – ainda
que sob os vestígios do perigo – e os homens perpetrando violências, insanidades,
tiranias, sob o silêncio angustioso das mulheres.
J.A.R. – H.C.
Cesare Pavese
(1908-1950)
Una Generazione
Un ragazzo veniva a
giocare nei prati
dove adesso
s’allungano i corsi. Trovava nei prati
ragazzotti anche
scalzi e saltava di gioia.
Era bello scalzarsi
nell’erba con loro.
Una sera di luci
lontane echeggiavano spari,
in città, e sopra il
vento giungeva pauroso
un clamore
interrotto. Tacevano tutti.
Le colline sgranavano
punti di luce
sulle coste, avviati
dal vento. La notte
che oscurava finiva
per spegnere tutto
e nel sonno duravano
solo freschezze di vento.
(Domattina i ragazzi
ritornano in giro
e nessuno ricorda il
clamore. In prigione
c’è operai silenziosi
e qualcuno è già morto.
Nelle strade han
coperto le macchie di sangue.
La città di lontano
si sveglia nel sole
e la gente esce
fuori. Si guardano in faccia).
I ragazzi pensavano
al buio dei prati
e guardavano in
faccia le donne. Perfino le donne
non dicevano nulla e
lasciavano fare.
I ragazzi pensavano
al buio dei prati
dove qualche bambina
veniva. Era bello far piangere
le bambine nel buio.
Eravamo i ragazzi.
La città ci piaceva
di giorno; la sera, tacere
e guardare le luci in
distanza e ascoltare i clamori.
Vanno ancora ragazzi
a giocare nei prati
dove giungono i
corsi. E la notte è la stessa.
A passarci si sente
l’odore dell’erba.
In prigione ci sono
gli stessi. E ci sono le donne
come allora, che
fanno bambini e non dicono nulla.
(1934)
Três Gerações
(Paulus Hoffman:
artista holandês)
Uma Geração
Um guri costumava vir
brincar nos prados
onde as ruas agora se
estendem. Nos prados encontrava
outros guris também
descalços e pulava de alegria.
Era divertido descalçar-se
na grama com eles.
Numa noite de luzes
distantes, ecoavam disparos
na cidade, e sobre o
vento chegava pavoroso
um clamor
interrompido. Todos se calavam.
As colinas debulhavam
pontos de luz
sobre as costas, excitadas
pelo vento. A escuridão
da noite acabava por tudo
desvanecer
e no sono só
perduravam os frescores do vento.
(De manhã, os guris
retornam por ali
e ninguém se lembra
do clamor. Na prisão
há operários
silenciosos e alguém já está morto.
Nas ruas as manchas
de sangue foram cobertas.
Ao longe a cidade
desperta ao sol
e as pessoas saem porta
afora. Entreolham-se.)
Os guris pensavam na
escuridão dos prados
e olhavam no rosto as
mulheres. Mesmo as mulheres
nada diziam e
deixavam que as coisas acontecessem.
Os guris pensavam na
escuridão dos prados
onde alguma menina
costumava vir. Era divertido
fazer chorar as
meninas no escuro. Éramos os guris.
A cidade nos deleitava
durante o dia; à noite, silenciar,
olhar as luzes a
distância e ouvir os clamores.
Os guris ainda vão
brincar nos prados
onde as ruas se
estendem. E a noite é a mesma.
Passando por ali,
pode-se sentir o olor da grama.
Na prisão estão as
mesmas pessoas. E há mulheres
como então, que têm
filhos e nada dizem.
(1934)
Referência:
PAVESE, Cesare. Una
generazione. In: __________. Poesie edite e inedite. A cura di Italo
Calvino. Quarta edizione. Torino, IT: Einaudi, maggio 1967. p. 83-84.
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