Trago aqui, para
reflexão dos estimados internautas que frequentam estas páginas, três mensagens
que calam fundo sobre os recentes acontecimentos bélicos desenrolando-se na
Palestina e na Ucrânia, e, mais extensivamente, sobre a expansão agressiva da
extrema direita em todo o mundo: a primeira, de autoria do pensador humanista
Erich Fromm, alemão de origem judaica; a sequente, de Noam Chomsky, linguista e
pensador norte-americano, também de origem judaica; e uma última, na verdade
uma entrevista, recentemente concedida pelo músico Roger Waters, ex-líder da banda
“Pink Floyd”, ao jornalista brasileiro Leandro Demori.
Na entrevista de
Waters, todo o seu compromisso em tornar mais contrastante e límpida a paisagem
política contemporânea, quer no país quer no mundo: em suas palavras, fica nítida
a ideia de que o que se considera “extrema direita”, aqui como alhures, nada tem
a ver com o espectro político “conservador”, pois que absolutamente desvestido
de ideias que façam lógica, mas apenas em conexão com a sandice necrológica, a
tornar o “homem o lobo do homem” (e o que é pior, digo eu, misturando pseudodiscursos
religiosos para suscitar cizânias por toda parte), em vez de uni-los na construção
de um mundo de paz e de igualdade!
J.A.R. – H.C.
Erich Fromm
(1900-1980)
Ponderações contidas no
ensaio
“O caráter revolucionário”
O caráter
revolucionário identifica-se com a humanidade e, portanto, transcende os
estreitos limites de sua própria sociedade e pode, por isso, criticar a sua
sociedade, ou qualquer outra, do ponto de vista da razão e humanidade. Não está
preso ao culto paroquial da cultura em que tenha nascido, e que representa
apenas um acidente de tempo e geografia. Pode examinar seu meio com os olhos
abertos de um homem acordado que baseia seu critério para julgar as coisas
acidentais naquilo que não é acidental (a razão), nas normas que existem na
raça humana e para ela.
O caráter
revolucionário identifica-se com a humanidade. Encerra ainda uma profunda
“reverência pela vida”, para usarmos a expressão de Albert Schweitzer, uma
profunda afinidade com a vida e um profundo amor por ela. É certo, na medida em
que nos assemelhamos aos outros animais, que nos apegamos à vida e lutamos
contra a morte. Mas o apego à vida é algo totalmente diferente do amor à vida.
Isso será ainda mais evidente se considerarmos o fato de que há um tipo de
personalidade atraída pela morte, destruição e decadência, e não pela vida.
(Hitler é um bom exemplo histórico disso.) Esse tipo de caráter pode ser
chamado de necrófilo, para usarmos uma expressão de Unamuno, em sua famosa
resposta, em 1936, a um general Franco, cuja frase preferida era “Viva a morte”.
FROMM, Erich. O
dogma de Cristo e outros ensaios sobre religião, psicologia e cultura.
Tradução de Waltensir Dutra. 2. ed. Rio de Janeiro, GB: Zahar Editores, 1965.
p. 124-125.
Ω
Noam Chomsky
(n. 1928)
O uso ludibriante da Religião
na Política
Desde Jimmy Carter,
os fundamentalistas religiosos desempenham um papel importante nas eleições.
Ele foi o primeiro presidente que fez questão de se apresentar como um cristão
renascido. Isso acendeu um pouco de luz nas mentes dos gestores de campanhas
políticas: finja ser um fanático religioso e poderá obter um terço dos votos de
imediato. Ninguém perguntou se Lyndon Johnson ia à igreja todos os dias. Bill
Clinton é provavelmente tão religioso quanto eu, ou seja, zero, mas os seus marqueteiros
fizeram questão de garantir que todos os domingos, pela manhã, ele estivesse
numa igreja batista entoando hinos.
Chomsky, Noam. Entrevista
ao periódico alemão “Der Spiegel”, em 10.10.2008. Disponível neste
endereço. Acesso em: 20 out. 2023.
Ω
Roger Waters
(n. 1943)
Endereço original no
Youtube:
https://www.youtube.com/watch?v=ngCyGsC2BXA&t=6s
Roger Waters em entrevista
a Leandro Demori
(25.10.2023)
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