A vida tem suas
trilhas, algumas curtas, outras mais longas. Contudo, a longo prazo, apenas
uma, sem alternativas para regressos e reinícios, pois que a seta do tempo é
irreversível: seremos isto ou aquilo, a depender da escolha, mas nunca isto e
aquilo. De mais a mais, há as “mãos invisíveis” do destino, para nos atirar no
imponderável substrato da fortuna. E eis aí tudo quanto faz a diferença, a teor
do que, em outro
poema, Robert Frost sintetiza com tanta propriedade.
De resto, somos sobressaltados
pelo temor da morte, contudo vamos ao seu encalço sempre a nos aproximar dela, quer
a aceitemos quer não. Em suma: somos o próprio caminho, através do qual a vida
se manifesta e passa.
J.A.R. – H.C.
Péricles E. S. Ramos
(1919-1992)
Destino
Porque nasceste
obscuras raízes se espalharam
traçando esses
caminhos. Agora vais em frente.
Ainda que desejes
parar debaixo de uma árvore,
comer de um fruto que
não seja teu, deitar à sombra
que não cai do céu
para todos, ou desviar-te
por outros caminhos
que sonhaste e só por isso
julgas teus,
irrevogáveis e mecânicos são os passos
que te vão levando,
inerme, sobre a corda bamba
até a outra margem –
de onde voltar não podes.
Voltar atrás não
podes, é tarde, é sempre tarde,
que a cada momento a
corda arrebenta atrás de ti
e arma-se de novo à
tua frente para que de novo
a pises, vás em
frente, chegues lá. Mas a que eira
ou beira? A que
destino? Mãos invisíveis traçam
o destino; e os fios
com que o trançam, tramam,
são igualmente
invisíveis. E vais. Por onde vais,
sejam ou não os
caminhos que sonhas teus e pisas,
em toda água sobre
que te debruces, vês, encontras
a imagem de que foges
e é a imagem que buscas.
O caminho da vida
(Carrie Bennett: pintora
norte-americana)
Referência:
RAMOS, Péricles Eugênio da Silva. Destino. In: RODRIGUES, Claufe; MAIA, Alexandra (Orgs.). 100 anos de poesia: um panorama da poesia brasileira do século XX. Vol. I. Rio de Janeiro, RJ: O Verso Edições, 2001. p. 194.
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E, mais uma vez, passeando pelo blog, encontro essa mostra da poesia magistral de Péricles Eugênio da Silva Ramos, que não pude conhecer pessoalmente. Tenho certeza de que está eternizado e se deliciando com a postagem. Por ele, pela emoção da leitura e pela poesia brasileira, nosso muito obrigado.
ResponderExcluirPrezado: não há de quê. Um abraço. J. A. Rodrigues
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