Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Beth Cury - A Casa

A docente e poetisa paulistana aspira por um sótão, quer seja ele de verdade quer mera alegoria, no qual possa vogar no “presente do passado” – por conseguinte, não exatamente com a “poeira” efundida pelos quatro cantos –, enquanto recinto preferencial onde as relíquias do presente lhe sejam coevas ou em pleno curso, uma espécie de denominador comum intertemporal.

Haveria em tal sótão tudo o que lhe fosse por demais característico: postigos estreitos – através dos quais se discernem as tardes frias enquadradas num delimitado horizonte –, e a cobertura em declive – como um caixa craniana onde as vozes ainda ressoam na memória, o ontem tornando-se presença nesse espaço de encontro com “muita gente” – e, a despeito de tudo, o “vazio”...

J.A.R. – H.C.

 

Beth Cury

(n. 1942)

 

A Casa

 

Um sótão,

de fato ou de metáforas.

Como o quero!

Mais fácil, por ora, o figurado.

Um tanto livre, o custo baixo.

Basta um voo

do chão ao sonho

e entro nos guardados

de um passado bem passado

esconderijo de relíquias.

Vozes em eco

no presente

que consente

unir-se o hoje ao sempre.

 

Um sótão.

Como o quero!

Se já o tivesse... espaço da memória

da gente.

Haveria de ser sem poeira

sem fronteiras

disputado

lugar de privilégio

no presente do passado.

 

Janelas não, gelosias.

O olhar de dentro, estreito

e o horizonte, e as tardes frias.

Espaço de olhar para dentro.

É certo o encontro.

Muita gente e o vazio.

 

O estúdio do sótão

(Henri Matisse: pintor francês)


Referência:

CURY, Beth. A casa. In: BERTI SANTOS, Sonia Sueli (Organização). Diversos: antologia poética. Vários autores. São Paulo, SP: Andross, 2005. p. 195-196.

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