Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 1 de março de 2021

Wisława Szymborska - Fim e começo

Mesmo a guerra chega a seu termo, se compreendermos o fluxo da história como uma sucessão de momentos de paz e de dissensos. A par dos eventos traumáticos por ela causados – nem sempre muito bem assimilados ou superados, e, com o passar do tempo, esquecidos –, tudo deve ser trazido à ordem, novamente – é o que nos explana a poetisa polonesa.

Quanto tempo, recursos e mãos são necessários para reerguer o que foi posto em ruínas pelas armas?! A reconstrução desponta nos versos pela ordem anafórica das ingentes tarefas de limpar, desentulhar, desatolar, varrer etc. Contudo, as novas gerações pouco percebem as dificuldades enfrentadas pelas pessoas, à época, e os efeitos provocados pelas grandes guerras da primeira metade do século XX – protraídos até os dias correntes!

J.A.R. – H.C.

 

Wisława Szymborska

(1923-2012)

 

Koniec i początek

 

Po każdej wojnie

ktoś musi posprzątać.

Jaki taki porządek

sam się przecież nie zrobi.

Ktoś musi zepchnąć gruzy

na pobocza dróg,

żeby mogły przejechać

wozy pełne trupów.

 

Ktoś musi grzęznąć

w szlamie i popiele,

sprężynach kanap,

drzazgach szkła

i krwawych szmatach.

 

Ktoś musi przywlec belkę

do podparcia ściany,

ktoś oszklić okno

i osadzić drzwi na zawiasach.

 

Fotogeniczne to nie jest

i wymaga lat.

Wszystkie kamery wyjechały już

na inną wojnę.

 

Mosty trzeba z powrotem

i dworce na nowo.

W strzępach będą rękawy

od zakasywania.

 

Ktoś z miotłą w rękach

wspomina jeszcze jak było.

Ktoś słucha

przytakując nie urwaną głową

Ale już w ich pobliżu

zaczną kręcić się tacy,

których to będzie nudzić.

 

Ktoś czasem jeszcze

Wykopie spod krzaka

przeżarte rdzą argumenty

i poprzenosi je na stos odpadków.

 

Ci, co wiedzieli

o co tutaj szło,

muszą ustąpić miejsca tym,

co wiedzą mało.

I mniej niż mało.

I wreszcie tyle co nic.

 

W trawie, która porosła

przyczyny i skutki,

musi ktoś sobie leżeć

z kłosem w zębach

i gapić się na chmury.

 

Assente em Escombros

(Melinda Hoffman: pintora norte-americana)

 

Fim e começo

 

Depois de cada guerra

alguém tem que fazer a faxina.

Colocar uma certa ordem

que afinal não se faz sozinha.

 

Alguém tem que jogar o entulho

para o lado da estrada

para que possam passar

os carros carregando os corpos.

 

Alguém tem que se atolar

no lodo e nas cinzas

em molas de sofás

em cacos de vidro

e em trapos ensanguentados.

 

Alguém tem que arrastar a viga

para apoiar a parede,

pôr a porta nos caixilhos,

envidraçar a janela.

 

A cena não rende foto

e leva anos.

E todas as câmeras já debandaram

para outra guerra.

 

As pontes têm que ser refeitas,

e também as estações.

De tanto arregaçá-las,

as mangas ficarão em farrapos.

 

Alguém de vassoura na mão

ainda recorda como foi.

Alguém escuta

meneando a cabeça que se safou.

Mas ao seu redor

já começam a rondar

os que acham tudo muito chato.

 

Às vezes alguém desenterra

de sob um arbusto

velhos argumentos enferrujados

e os arrasta para o lixão.

 

Os que sabiam

o que aqui se passou

devem dar lugar àqueles

que pouco sabem.

Ou menos que pouco.

E por fim nada mais que nada.

 

Na relva que cobriu

as causas e os efeitos

alguém deve se deitar

com um capim entre os dentes

e namorar as nuvens.


Referência:

SZYMBORSKA, Wisława. Koniec i początek / Fim e começo. Tradução de Regina Przybycien. In: __________. Poemas. Seleção, tradução e prefácio de Regina Przybycien. Edição Bilíngue. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2011. Em português: p. 92-93; em polonês: p. 154-156.

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