Mesmo a guerra chega a seu termo, se compreendermos o fluxo da história como uma sucessão de momentos de paz e de dissensos. A par dos eventos traumáticos por ela causados – nem sempre muito bem assimilados ou superados, e, com o passar do tempo, esquecidos –, tudo deve ser trazido à ordem, novamente – é o que nos explana a poetisa polonesa.
Quanto tempo, recursos e mãos são necessários para reerguer o que foi posto em ruínas pelas armas?! A reconstrução desponta nos versos pela ordem anafórica das ingentes tarefas de limpar, desentulhar, desatolar, varrer etc. Contudo, as novas gerações pouco percebem as dificuldades enfrentadas pelas pessoas, à época, e os efeitos provocados pelas grandes guerras da primeira metade do século XX – protraídos até os dias correntes!
J.A.R. – H.C.
Wisława Szymborska
(1923-2012)
Koniec i początek
Po każdej wojnie
ktoś musi posprzątać.
Jaki taki porządek
sam się przecież nie zrobi.
Ktoś musi zepchnąć gruzy
na pobocza dróg,
żeby mogły przejechać
wozy pełne trupów.
Ktoś musi grzęznąć
w szlamie i popiele,
sprężynach kanap,
drzazgach szkła
i krwawych szmatach.
Ktoś musi przywlec belkę
do podparcia ściany,
ktoś oszklić okno
i osadzić drzwi na zawiasach.
Fotogeniczne to nie jest
i wymaga lat.
Wszystkie kamery wyjechały już
na inną wojnę.
Mosty trzeba z powrotem
i dworce na nowo.
W strzępach będą rękawy
od zakasywania.
Ktoś z miotłą w rękach
wspomina jeszcze jak było.
Ktoś słucha
przytakując nie urwaną głową
Ale już w ich pobliżu
zaczną kręcić się tacy,
których to będzie nudzić.
Ktoś czasem jeszcze
Wykopie spod krzaka
przeżarte rdzą argumenty
i poprzenosi je na stos odpadków.
Ci, co wiedzieli
o co tutaj szło,
muszą ustąpić miejsca tym,
co wiedzą mało.
I mniej niż mało.
I wreszcie tyle co nic.
W trawie, która porosła
przyczyny i skutki,
musi ktoś sobie leżeć
z kłosem w zębach
i gapić się na chmury.
Assente em Escombros
(Melinda Hoffman: pintora norte-americana)
Fim e começo
Depois de cada guerra
alguém tem que fazer a faxina.
Colocar uma certa ordem
que afinal não se faz sozinha.
Alguém tem que jogar o entulho
para o lado da estrada
para que possam passar
os carros carregando os corpos.
Alguém tem que se atolar
no lodo e nas cinzas
em molas de sofás
em cacos de vidro
e em trapos ensanguentados.
Alguém tem que arrastar a viga
para apoiar a parede,
pôr a porta nos caixilhos,
envidraçar a janela.
A cena não rende foto
e leva anos.
E todas as câmeras já debandaram
para outra guerra.
As pontes têm que ser refeitas,
e também as estações.
De tanto arregaçá-las,
as mangas ficarão em farrapos.
Alguém de vassoura na mão
ainda recorda como foi.
Alguém escuta
meneando a cabeça que se safou.
Mas ao seu redor
já começam a rondar
os que acham tudo muito chato.
Às vezes alguém desenterra
de sob um arbusto
velhos argumentos enferrujados
e os arrasta para o lixão.
Os que sabiam
o que aqui se passou
devem dar lugar àqueles
que pouco sabem.
Ou menos que pouco.
E por fim nada mais que nada.
Na relva que cobriu
as causas e os efeitos
alguém deve se deitar
com um capim entre os dentes
e namorar as nuvens.
Referência:
SZYMBORSKA, Wisława. Koniec i początek / Fim e começo.
Tradução de Regina Przybycien. In: __________. Poemas. Seleção, tradução e prefácio de Regina
Przybycien. Edição Bilíngue. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2011. Em português: p. 92-93; em polonês: p. 154-156.
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