Os gatos povoam a literatura mundial – de Heine a Joyce, de Elitot a Borges –, porque encantam os seus donos, fascinados pela complexa personalidade, elegância, flexibilidade, independência, imprevisibilidade e misteriosa natureza. Por consequência, os felinos acabam por incorporar valores simbólicos ou metafóricos em inúmeras obras literárias dedicadas a crianças e adultos.
No âmbito da poesia, já vão lá mais de 120 (cento e vinte) poemas postados somente neste blog – e, agora, mais um, em específico, da pena da poetisa alemã Sarah Kirsch: da enorme pachorra dos bichanos, da natureza avessa aos perros, à notória errância noturna – tais são as imagens delimitadas nos versos deste curto poema.
J.A.R. – H.C.
Sarah Kirsch
(1935-2013)
Katzenleben
Aber die Dichter lieben die Katzen
Die nicht kontrollierbaren sanften
Freien die den Novemberregen
Auf seidenen Sesseln oder in Lumpen
Verschlafen verträumen stumm
Antwort geben sich schütteln und
Weiterleben hinter dem Jägerzaun
Wenn die besessenen Nachbarn
Immer noch Autonummern notieren
Der Überwachte in seinen vier Wänden
Längst die Grenzen hinter sich ließ.
O esconde-esconde
(Henriette Ronner-Knip: pintora holando-belga)
Vida de Gato
Decerto, os poetas amam os gatos:
Os livres e amistosos fora de controle
Que, sob a chuva de novembro ao longe,
Em poltronas de seda ou sobre andrajos,
Dormem, sonham e, em silêncio,
Reagem em frêmitos, levando a vida
Por trás do gradil do cão de caça.
Enquanto os obcecados vizinhos
Ainda anotam as placas dos veículos,
O monitorado, em suas quatro paredes,
Há muito deixou as fronteiras para trás.
Referência:
KIRSCH, Sarah. Katzenleben. In:
__________. Katzenleben / Catlives. Translated and edited from German
to English by Marina Roscher and Charles Fishman. Lubbock, TX: Texas Tech
University Press, 1991. p. 140.
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