O poeta, agora maduro, descreve a forma como se desfez da religião, particularmente de seus rituais, dos quais – a julgar por alguns versos do poema – participava muito provavelmente como acólito do sacerdote: a evolução de sua própria forma física, até a idade adulta, demarca a submissão e o posterior desafio à intimidação de um Cristo repressor.
Deixando de estar presente às missas de domingo, afastou-se o poeta, de um modo intimorato, dos dogmas religiosos. Pressente-se, contudo, a atribuição de um temperamento rancoroso e vingativo a Cristo que, a bem da verdade, não condiz com a sua mensagem de benevolência, senão às características reputáveis ao Deus do Antigo Testamento.
J.A.R. – H.C.
Paul Zimmer
(n. 1934)
The Day Zimmer Lost Religion
The first Sunday I missed Mass on purpose
I waited all day for Christ to come down
Like a wiry flyweight from the cross and
Club me on my irreverent teeth, to wade into
My blasphemous gut and drop me like a
Red hot thurible, the devil roaring in
Reserved seats until he got the hiccups.
It was a long cold way from the old days
When cassocked and surpliced I mumbled Latin
At the old priest and rang his obscure bell.
A long way from the dirty wind that blew
The soot like venial sins across the school yard
Where God reigned as a threatening,
One-eyed triangle high in the fleecy sky.
The first Sunday I missed Mass on purpose
I waited all day for Christ to climb down
Like the playground bully, the cuts and mice
Upon his face agleam, and pound me
Till my irreligious tongue hung out.
But of course He never came, knowing that
I was grown up and ready for him now.
Descida da Cruz
(Peter Paul Rubens: pintor flamengo)
O Dia em que Zimmer Desfez-se da
Religião
No primeiro domingo, faltei à missa de propósito:
Esperei o dia todo para que Cristo descesse
Como um peso-mosca da cruz e
Me golpeasse em meus irreverentes dentes, fulminasse
As minhas entranhas blasfemas, e me deixasse cair
Como um turíbulo em brasa, com satã a rugir em
Assentos reservados até que lhe acometessem soluços.
Foi um longo percurso desde os velhos tempos,
Quando de batina e sobrepeliz eu murmurava o latim
Ao longevo sacerdote e tocava sua sineta obscura.
Um longo caminho desde o vento poluído
que soprava
A fuligem como pecados veniais pelo
pátio da escola,
Onde Deus reinava como um ameaçador
Triângulo de um só olho, no alto do céu
lanoso.
No primeiro domingo, faltei à missa de propósito:
Esperei o dia todo para que Cristo descesse
Como o valentão do pátio de recreio, os
cortes e
Arranhões fulgindo em sua face, e me
golpeasse
Até que me fizesse pender a língua
irreligiosa.
Mas é claro que Ele nunca veio, sabendo
que
Eu havia crescido e estava pronto a enfrentá-lo.
Referência:
ZIMMER, Paul. The day Zimmer lost religion.
In: KENNEDY, X. J.; Gioia, Dana. Literature: an introduction to fiction,
poetry and drama. 6th ed. New York, NY: Harper Collins College Publishers,
1995. p. 608.
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