Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 2 de março de 2021

Paul Zimmer - O Dia em que Zimmer Desfez-se da Religião

O poeta, agora maduro, descreve a forma como se desfez da religião, particularmente de seus rituais, dos quais – a julgar por alguns versos do poema – participava muito provavelmente como acólito do sacerdote: a evolução de sua própria forma física, até a idade adulta, demarca a submissão e o posterior desafio à intimidação de um Cristo repressor.

Deixando de estar presente às missas de domingo, afastou-se o poeta, de um modo intimorato, dos dogmas religiosos. Pressente-se, contudo, a atribuição de um temperamento rancoroso e vingativo a Cristo que, a bem da verdade, não condiz com a sua mensagem de benevolência, senão às características reputáveis ao Deus do Antigo Testamento.

J.A.R. – H.C.

 

Paul Zimmer

(n. 1934)

 

The Day Zimmer Lost Religion

 

The first Sunday I missed Mass on purpose

I waited all day for Christ to come down

Like a wiry flyweight from the cross and

Club me on my irreverent teeth, to wade into

My blasphemous gut and drop me like a

Red hot thurible, the devil roaring in

Reserved seats until he got the hiccups.

 

It was a long cold way from the old days

When cassocked and surpliced I mumbled Latin

At the old priest and rang his obscure bell.

A long way from the dirty wind that blew

The soot like venial sins across the school yard

Where God reigned as a threatening,

One-eyed triangle high in the fleecy sky.

 

The first Sunday I missed Mass on purpose

I waited all day for Christ to climb down

Like the playground bully, the cuts and mice

Upon his face agleam, and pound me

Till my irreligious tongue hung out.

But of course He never came, knowing that

I was grown up and ready for him now.

 

Descida da Cruz

(Peter Paul Rubens: pintor flamengo)

 

O Dia em que Zimmer Desfez-se da Religião

 

No primeiro domingo, faltei à missa de propósito:

Esperei o dia todo para que Cristo descesse

Como um peso-mosca da cruz e

Me golpeasse em meus irreverentes dentes, fulminasse

As minhas entranhas blasfemas, e me deixasse cair

Como um turíbulo em brasa, com satã a rugir em

Assentos reservados até que lhe acometessem soluços.

 

Foi um longo percurso desde os velhos tempos,

Quando de batina e sobrepeliz eu murmurava o latim

Ao longevo sacerdote e tocava sua sineta obscura.

Um longo caminho desde o vento poluído que soprava

A fuligem como pecados veniais pelo pátio da escola,

Onde Deus reinava como um ameaçador

Triângulo de um só olho, no alto do céu lanoso.

 

No primeiro domingo, faltei à missa de propósito:

Esperei o dia todo para que Cristo descesse

Como o valentão do pátio de recreio, os cortes e

Arranhões fulgindo em sua face, e me golpeasse

Até que me fizesse pender a língua irreligiosa.

Mas é claro que Ele nunca veio, sabendo que

Eu havia crescido e estava pronto a enfrentá-lo.


Referência:

ZIMMER, Paul. The day Zimmer lost religion. In: KENNEDY, X. J.; Gioia, Dana. Literature: an introduction to fiction, poetry and drama. 6th ed. New York, NY: Harper Collins College Publishers, 1995. p. 608.

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