Dedicado não a uma figura histórica, mas à personagem do romance homônimo do escritor baiano Jorge Amado (1912-2001), o poema de Tocantins retrata bem o que de mais comum se costuma atribuir aos encantos da mulata brasileira, de início, fruto do relacionamento entre homens portugueses e mulheres africanas.
Não deixa de haver algum estereótipo nas descrições levadas a efeito pelo poeta, nomeadamente no que respeita aos atrativos físicos (“eloquência das nádegas”) e à sensualidade da mulata – aliás, como de resto ocorre em inúmeras outras obras da literatura pátria, a exemplo de “O Cortiço”, de Aluísio Azevedo, com sua impudente Rita Baiana.
J.A.R. – H.C.
Leandro Tocantins
(1919-2004)
Tríptico da Mulata
A Gabriela, Cravo e Canela
O mel apetecido, o cálido gesto de ser
alimento melódico, desejo pousado
na boca feita de confissões silentes.
Tangível é o alvo, sem miragem, do beijo.
A sépia e o barro no plasma úmido,
lânguida chama de dons acalentados
pela mística pastoral do anseio
de mutuamente mesclar o sonho à vida.
O corpo, artesão de múltiplo circuito,
a postura do seio, a eloquência das nádegas.
Brônzea madona de enigmas ancestrais
pascendo aos lacerados reféns de sua magia.
Lisboa, 16-7-1971
Mulata
(Di Cavalcanti: pintor carioca)
Referência:
TOCANTINS, Leandro. Tríptico da mulata.
In: __________. A memória de viver. Lisboa, PT: Centro do Livro
Brasileiro; Rio de Janeiro, BR: Artenova, jan. 1972. p. 61.
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