Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 9 de março de 2021

Leandro Tocantins - Tríptico da Mulata

Dedicado não a uma figura histórica, mas à personagem do romance homônimo do escritor baiano Jorge Amado (1912-2001), o poema de Tocantins retrata bem o que de mais comum se costuma atribuir aos encantos da mulata brasileira, de início, fruto do relacionamento entre homens portugueses e mulheres africanas.

Não deixa de haver algum estereótipo nas descrições levadas a efeito pelo poeta, nomeadamente no que respeita aos atrativos físicos (“eloquência das nádegas”) e à sensualidade da mulata – aliás, como de resto ocorre em inúmeras outras obras da literatura pátria, a exemplo de “O Cortiço”, de Aluísio Azevedo, com sua impudente Rita Baiana.

J.A.R. – H.C.

 

Leandro Tocantins

(1919-2004)

 

Tríptico da Mulata

 

A Gabriela, Cravo e Canela

 

O mel apetecido, o cálido gesto de ser

alimento melódico, desejo pousado

na boca feita de confissões silentes.

Tangível é o alvo, sem miragem, do beijo.

 

A sépia e o barro no plasma úmido,

lânguida chama de dons acalentados

pela mística pastoral do anseio

de mutuamente mesclar o sonho à vida.

 

O corpo, artesão de múltiplo circuito,

a postura do seio, a eloquência das nádegas.

Brônzea madona de enigmas ancestrais

pascendo aos lacerados reféns de sua magia.

 

Lisboa, 16-7-1971

 

Mulata

(Di Cavalcanti: pintor carioca)


Referência:

TOCANTINS, Leandro. Tríptico da mulata. In: __________. A memória de viver. Lisboa, PT: Centro do Livro Brasileiro; Rio de Janeiro, BR: Artenova, jan. 1972. p. 61.

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