Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 5 de março de 2021

James Wright - São Judas

Este soneto, em cujo título Wright apõe o adjetivo de “santo” a Judas Iscariotes, retrata a situação de um hipotético arrependimento do apóstolo a quem se atribui a traição a Cristo, ao mostrar compaixão por um homem lacerado por certa malta, a quem não resta quaisquer laivos de esperança, dado o seu grave estado físico.

Mesmo a quem cometeu a mais vil de todas as perversões, a quem a beatitude dos céus foi-lhe interditada, um ato de comiseração e bondade contemporiza a índole do proscrito a uma necessária remissão à compassividade humana. Erros temos à mancheia: “Quem dentre vós não tiver pecado, atire a primeira pedra!” (Jo 8, 7).

J.A.R. – H.C.


James Wright

(1927-1980)

 

Saint Judas

       

When I went out to kill myself, I caught

A pack of hoodlums beating up a man.

Running to spare his suffering, I forgot

My name, my number, how my day began,

How soldiers milled around the garden stone

And sang amusing songs; how all that day

Their javelins measured crowds; how I alone

Bargained the proper coins, and slipped away.

 

Banished from heaven, I found this victim beaten,

Stripped, kneed, and left to cry. Dropping my rope

Aside, I ran, ignored the uniforms:

Then I remembered bread my flesh had eaten,

The kiss that ate my flesh. Flayed without hope,

I held the man for nothing in my arms.

 

(1959)


Judas beija Cristo

(Gustave Doré: ilustrador francês)

 

São Judas

 

Quando me ausentei para dar cabo à vida, deparei

Com um bando de motineiros a espancar um homem.

Acudindo para lhe poupar o sofrimento, esqueci-me

De meu nome, de meu número, de como me começou o dia,

De como os soldados circulavam à volta da fraga do jardim

E entoavam pândegas canções; de como, em todo aquele dia,

Suas lanças refreavam multidões; de como, sozinho,

Barganhei as oportunas moedas, e dali escapei.

 

Banido dos céus, encontrei esta vítima golpeada,

Despida, ajoelhada e indefesa a chorar. Deixando de lado

A minha corda, apressei-me, ignorando os guardas:

Lembrei-me, então, do pão que minha carne havia comido,

Do beijo que consumiu minha carne. Lacerado e desenganado,

Por nada, segurei o homem em meus braços.

 

(1959)


Referência:

WRIGHT, James. Saint Judas. In: KENNEDY, X. J.; Gioia, Dana. Literature: an introduction to fiction, poetry and drama. 6th ed. New York, NY: Harper Collins College Publishers, 1995. p. 634.

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