O poema narra, num timbre poético, as desventuras de Jó, assolado por experiências dignas de Satã, em episódio que pretende desnudar as razões pelas quais Deus permite que o mal se difunda pelo mundo, logrando, desse modo, pôr os homens à prova no que tange à lealdade, tendo estes, em contrapartida, uma vida abençoada, material e espiritualmente, caso resistam firmes no reto caminho.
Há por trás da história de Jó uma lição de caráter moral, no sentido de que as ações e escolhas humanas devam ser pautadas pela justiça, para que possam viver em prosperidade. Contudo, se infortúnios sobrevierem, que os homens permaneçam serenos, sem blasfêmias ao Eterno – que aos poucos lhes restabelecerá o estado de bonança.
J.A.R. – H.C.
Carlos Nejar
(n. 1939)
Jó
Tudo me foi arrancado:
o corpo na doença,
filhos, bens.
E sem detença,
tumores vão
desde a cabeça
aos pés.
Desci ao pavor
da solidão aceita,
a mais só, a que
não se transfigura,
combalindo.
Tudo me foi arrancado
e em cinza raspei
com um caco a pele.
A mulher e os amigos
me repelem
e a esperança em mim
tem sua toca.
Em nudez, eu vim
e nu, retornarei
à terra.
Testemunham
as estrelas.
Nem isso.
Só eu na palavra
sou Jó.
E Deus já me pertence.
Jó
(Jan Lievens: pintor holandês)
Referência:
NEJAR, Carlos. Jó. In: __________. A
arca da aliança. Guarapari, ES: Nejarim - Paiol da Aurora, 1995. p. 30-31.
(Coleção ‘Os Viventes’)
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