Alpes Literários

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Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 6 de março de 2021

Carlos Nejar - Jó

O poema narra, num timbre poético, as desventuras de Jó, assolado por experiências dignas de Satã, em episódio que pretende desnudar as razões pelas quais Deus permite que o mal se difunda pelo mundo, logrando, desse modo, pôr os homens à prova no que tange à lealdade, tendo estes, em contrapartida, uma vida abençoada, material e espiritualmente, caso resistam firmes no reto caminho.

Há por trás da história de Jó uma lição de caráter moral, no sentido de que as ações e escolhas humanas devam ser pautadas pela justiça, para que possam viver em prosperidade. Contudo, se infortúnios sobrevierem, que os homens permaneçam serenos, sem blasfêmias ao Eterno – que aos poucos lhes restabelecerá o estado de bonança.

J.A.R. – H.C.

 

Carlos Nejar

(n. 1939)

 

 

Tudo me foi arrancado:

o corpo na doença,

filhos, bens.

E sem detença,

tumores vão

desde a cabeça

aos pés.

 

Desci ao pavor

da solidão aceita,

a mais só, a que

não se transfigura,

combalindo.

 

Tudo me foi arrancado

e em cinza raspei

com um caco a pele.

A mulher e os amigos

me repelem

e a esperança em mim

tem sua toca.

 

Em nudez, eu vim

e nu, retornarei

à terra.

 

Testemunham

as estrelas.

Nem isso.

 

Só eu na palavra

sou Jó.

E Deus já me pertence.

 

(Jan Lievens: pintor holandês)


Referência:

NEJAR, Carlos. Jó. In: __________. A arca da aliança. Guarapari, ES: Nejarim - Paiol da Aurora, 1995. p. 30-31. (Coleção ‘Os Viventes’)

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