Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 21 de março de 2021

Sérgio Milliet - O Sol Adolescente

O ente lírico põe-se a lembrar da época em que, adolescente, contemplava a sua aldeia numa ampla mirada, acomodável nas palmas de suas mãos: sente mágoas pelo espinho afigurado pela torre da igreja, pois que lhe evoca nostálgicos momentos. Com efeito, os versos espelham o idílio vivenciado pelo poeta, moldado em versos que humanizam estados ou eventos da natureza.

“Adolescente” não é propriamente o sol, senão a conjuntura sob a qual se manifestam os elementos contingentes memorados pelo falante. Afinal, sempre temos uma história feliz – ou, desafortunadamente, nem tanto – de quando éramos adolescentes ou ainda crianças, instantes nos quais nossas personalidades ainda estavam sendo moldadas pelos encontros e desencontros da vida.

J.A.R. – H.C.

 

Sérgio Milliet

(1898-1966)

 

O Sol Adolescente

 

O sol adolescente

banha os campos retangulares.

Sopra o vento cuidadoso

para que as folhas não caiam.

E brinca o riacho leviano

brinca de sela com as pedras redondas.

Os galhos dos pinheiros

abanam-se mutuamente

e nos flancos das colinas

as cerejeiras brotam de vasos negros.

 

Essa aldeia cabe nas minhas mãos abertas.

Mas a torre da igreja

fere-me as palmas

como um espinho de nostalgia.

 

Em: “Alguns Poemas Entre Muitos” (1957)

 

A velha torre nos campos

(Vincent van Gogh: pinto holandês)


Referência:

MILLIET, Sérgio. O sol adolescente. In: PONTIERO, Giovanni (Notes and Introduction). An anthology of brazilian modernist poetry. 1st. ed. Oxford, EN: Pergamon Press, 1969. p. 59.

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