Um poema – ou seria melhor empregar o termo poesia?! – é uma forma de expressão emblemática – porque quase tudo comporta enquanto significante, significado, som e ritmo –, tendo por objetivo surpreender, cativar e estimular uma resposta ao leitor sensível às palavras.
A par da incompletude dessa definição de poesia – arranjada ao sabor do momento, daí porque precária, elusiva ou mesmo imprecisa –, melhor seria ponderar que ela emerge da pena assombrosa de um mágico, cujos truques de sua arte, vez por outra, são deslindados em outros tantos poemas desse “fingidor” e “ilusionista”: com as lentes do poeta cearense, internauta, navegue pelas trilhas enigmáticas do infratranscrito poema e tire as suas próprias conclusões!
J.A.R. – H.C.
Francisco Carvalho
(1927-2013)
Explicação do Poema
O poema é uma teia
de sombra e sol.
Uivo de alcateia
para a lua cheia.
O poema é o fluxo
e o cio da sereia.
O poema é o que pulsa
no vértice de fogo
dos olhos da Ursa.
Não é o cachimbo
de ópio. É o voo dos
pássaros do limbo.
A dança da chama
que devora o peito
de quem ama.
O lugar da ágora
onde os deuses amam
musas e medusas.
O poema é um meio
de beber ao seio
das guitarras lusas.
Em: “Romance da nuvem pássaro” (1998)
Constelação de Órion
(Randy Burns: pintor norte-americano)
Referência:
CARVALHO, Francisco. Explicação do
poema. In: SEFFRIN, André (Seleção e Prefácio). Roteiro da poesia
brasileira: anos 50. 1. ed. São Paulo, SP: Global, 2007. p. 145.
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