Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 11 de março de 2021

Karl Shapiro - Crença e Poesia

Shapiro propõe-se a perscrutar a relação entre a criação poética e as convicções de fé albergadas pelo poeta, logo concluindo que há versos com todos os matizes, explico-me melhor, permeados pelas crenças do autor ou silentes quanto ao tema, a exemplo de Shakespeare, que, segundo o Shapiro, não nos deixou qualquer relato acerca de sua teologia ou metafísica – muito embora se possa deduzir que, no período elisabetano, se comportasse como a maioria em relação aos judeus, a se julgar pelo teor de “O Mercador de Veneza”.

Shapiro, vendo na crença a raiz mestra da arte, aponta – apenas para não se estender a algures – à panóplia de linhagens de fé professadas por autores norte-americanos. Mas, de uma memória bem impressiva no domínio da poesia, os nomes mais significativos que vêm-me de súbito à mente, marcando presença nesses arrabaldes, são, de fato, associados a outros rincões: os ingleses John Donne e William Blake, o indiano Kabir, o persa Rumi, o bengali Tagore e, entre nós, Cruz e Sousa, Alphonsus de Guimaraens e Jorge de Lima.

J.A.R. – H.C.

 

Karl Shapiro

(1913-2000)

 

Belief and Poetry

 

Belief, it may be, is fortuitous

In rime; there are perhaps as many poets

Who shrug heir shoulders at the word as there

Are those who clutch it like a talisman.

Shakespeare, we think, believed in God and country

And the nobility of man. What else?

 

The greatest poet has left us no account

Of his theology or his metaphysics;

 

This in our day is almost tantamount

To calling him a fool or a barbarian.

 

Certain it is that we regard belief

As the tap-root of art. So various

And multifoliate are our breeds of faith

That we could furnish a herbarium

With the American specimens alone.

 

Sublime Epifania

(Lindsey Look: artista norte-americana)

 

Crença e Poesia

 

A crença, provavelmente, revela-se fortuita

Na rima; talvez haja tantos poetas

Que dão de ombros frente à palavra, quanto

Os que a agarram como um talismã.

Shakespeare, pensamos nós, acreditava em Deus, na pátria

E na nobreza do homem. O que mais?

 

O maior dos poetas não nos deixou qualquer relato

Acerca de sua teologia ou de sua metafísica;

 

Em nossos dias, isso é quase o equivalente

A chamá-lo de parvo ou bárbaro.

 

Certo é que consideramos a crença

Como a raiz mestra da arte. Tão variegadas

E multifoliadas são nossas linhagens de fé,

Que poderíamos providenciar um herbário

Somente com os espécimes americanos.


Referência:

SHAPIRO, Karl. Belief and poetry. In: RODMAN, Selden (Ed.). An new anthology of modern poetry. New York, NY: Random House Inc., 1946. p. 434. (“The Modern Library”)

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