Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 29 de março de 2021

José Ruiz Rosas - Escrevo assim o poema

O poeta descreve todo o seu processo criador ao elaborar o poema, um misto de influxos internos e externos, incitando-lhe desejos profundos de oferecer algo assemelhado ao sol a seus leitores, um luzeiro capaz de cingi-los silenciosamente, num autêntico “laboratório do abraço”.

Não há, nas imagens empregadas por Rosas, algo que se pareça, pronunciadamente, a um sopro esotérico de inspiração, “insight” ou iluminação pelas musas, senão – melhor se diria – uma espécie de conduta diária que, à força de repeti-la, converte-se em feitos reflexos, a exemplo do próprio poema, autêntico cadinho onde se recolhem, sob a foram de palavras, levas de intuições, sentimentos e emoções.

J.A.R. – H.C.

 

José Ruiz Rosas

(1928-2018)

 

Así escribo el poema

 

Así escribo el poema. Doy un paso,

duermo, sonrío, lloro en mis adentros,

mastico la ancha hiel de los instintos

puestos a galopar, protones lúdicos

flotando sus latentes emociones;

miro la luz, que es el mirar más último

antes de penetrar en cada arcano;

oigo no sé qué cosas en los cantos

de las aves por un momento libres

y se me empuña el corazón sabiendo

su final de cautivas o de víctimas;

aspiro el aire altísimo que baja

a decorar de oxígeno mis huesos;

llego, me voy, distante en todo tiempo

de la meta final que no he fijado;

pulso la hora intacta que ha parido

el otoño de un ramo, atrapo el claro

destello de unos ojos fraternales,

miro los flujos que soporta el mundo

por pasos con sus callos melancólicos,

torno, vuelvo a mirar y abro los ojos

como un insomne búho en medio día

y fijo las pupilas como el gato

que pretendiera caza de aeroplanos,

subo la cuesta, bajo, y subo, y bajo

y conservo el imán del pavimento;

llego, con mi codicia a manos llenas

a regalarle el sol a todo el mundo

y la sombra, la luna y los luceros

como si todo yo fuera raíces,

hojas y savia para estar callado

como un laboratorio del abrazo;

así escribo el poema. Doy un paso.

 

Garoto a empinar uma pipa

(Frederick McCubbin: pintor australiano)

 

Escrevo assim o poema

 

Escrevo assim o poema. Dou um passo,

durmo, sorrio, choro por dentro,

mastigo o amplo fel dos instintos

postos a galopar, prótons lúdicos

flutuando as suas latentes emoções;

miro a luz, que é o derradeiro olhar

antes de penetrar em cada arcano;

ouço não sei que coisas nos cantos

das aves livres por um momento

e se me aperta o coração sabendo

o seu final de cativas ou de vítimas;

inalo o altíssimo ar que desce

para adornar de oxigênio os meus ossos;

chego, parto, distante o tempo todo

da meta final por mim não fixada;

apalpo a hora intacta que pariu

o outono de um ramalho, capto o claro

fulgor de uns olhos fraternais,

contemplo os fluxos que o mundo suporta

por etapas, com seus melancólicos calos,

viro-me, volto a mirar e abro os olhos

como um mocho insone ao meio-dia

fixando as pupilas como um gato

que pretendesse caçar aviões,

subo a colina, desço, e subo, e desço

e mantenho o ímã do pavimento;

chego, com meu ardente desejo à mancheia,

a oferecer o sol a todo mundo

e a sombra, a lua e as estrelas

como se tudo em mim fossem raízes,

folhas e seiva para ficar em silêncio

como um laboratório do abraço;

escrevo assim o poema. Dou um passo.


Referência:

ROSAS, José Ruiz. Así escribo el poema. In: PANTIGOSO, Manuel. José Ruiz Rosas: el brillo esencial detrás de la oscuridad perfecta. Lima, Peru. Boletín de la Academia Peruana de la Lengua, n. 64 (2018): jul.-dic., p. 47-71. Original em espanhol: p. 65-66.  Disponível neste endereço. Acesso em: 23 fev. 2021.

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