Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 20 de março de 2021

Hyam Plutzik - O Sonho com o Nosso Mestre, William Shakespeare

O ente lírico sonha com Shakespeare, redundando num relato que parece ter saído a uma das peças do bardo, v.g., “Sonho de uma noite de verão”, mas, tal como ocorre em quase todo sonho, há contratempos que impedem-no de chegar a termo a um de seus mais alentados intentos – no caso em comento, de travar contato direito com Shakespeare, “tête-à-tête”.

A casa senhorial vislumbrada bem poderia ser a representação onírica do “Globe Theatre” em seu formato original, espaço de arte em que Shakespeare encenou, em primeira mão, muitas de suas peças, a exemplo de Hamlet e Rei Lear. Do meio de um “denso bosque” que tomou-lhe o recinto, eis que, mais recentemente – sejamos precisos, em 1997 –, o “Globe” foi reinaugurado pelas mãos da Rainha Elizabeth II.

J.A.R. – H.C.

 

Hyam Plutzik

(1911-1962)

 

The Dream About Our Master, William Shakespeare

 

This midnight dream whispered to me:

Be swift as a runner, take the lane

Into the green mystery

Beyond the farm and haystack at Stone.

You leave tomorrow, not to return.

 

Hands that were fastened in a vise,

A useless body, rooted feet,

While time like a bell thundered the loss,

Witnessed the closing of the gate.

Thus sleep and waking both betrayed.

 

I had one glimpse: In a close of shadow

There rose the form of a manor-house,

And in a corner a curtained window.

All was lost in a well of trees,

Yet I knew for certain this was the place.

 

If the hound of air, the ropes of shade,

And the gate between that is no gate,

Had not so held me and delayed

These cowardly limbs of bone and blood,

I would have met him as he lived.

 

Uma mansão no campo

(Sujit Sudhi: pintor indiano)

 

O Sonho com o Nosso Mestre, William Shakespeare

 

Este sonho de meia-noite sussurrou-me:

Sê rápido como um corredor, pega a pista

Rumo ao misterioso verde

Para além da quinta e da meda de feno em Stone.

Parte amanhã, para não regressares.

 

Mãos que estavam presas a um torno,

Um corpo inútil, pés enraizados

Testemunharam o fechamento do portão,

Enquanto o tempo, como um sino, troava o revés.

Assim, sonho e vigília restaram ludibriados.

 

Tive um vislumbre: em uma zona de sombra

Erguia-se a forma de uma casa senhorial

E, a um canto, uma janela com cortinas.

Tudo estava abandonado num adensado de árvores,

Mas eu tinha a certeza de que aquele era o lugar.

 

Se o portão a meio caminho não fosse um portão,

Se o cão de caça, se os cordames da sombra

Não houvessem me embaraçado e atrasado

Estes covardes membros de ossos e sangue,

Tê-lo-ia conhecido ainda quando vivo.


Referência:

PLUTZIK, Hyam. The dream about our master, William Shakespeare. In: HEANEY, Seamus; HUGHES, Ted (Eds.). The rattle bag. 1st publ. London, EN: Faber and Faber, 1982. p. 135.

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