O poeta canta loas à comunhão de pensamento, quando, em sua ótica, o homem é muito mais homem, a sorver o vinho dos páramos, isso porque o pensamento partilhado permite que avance no plano da História, podendo ser aperfeiçoado ou, até mesmo, preterido por outros mais aderentes a cada momento da experiência humana sobre a terra.
Sob tal perspectiva, pensamento é luz e brilho, servindo como norte ao aprimoramento espiritual do ser humano, afastados ou refutados todos aqueles erigidos para dividir a espécie, uma vez que eivados de preconceitos, erros ou intenções segundas: “Assim deixai a vossa luz resplandecer diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus” (Mt 5: 16).
J.A.R. – H.C.
Péricles Eugênio da Silva Ramos
(1919-1992)
O homem que pensa é uma dádiva,
é como o pão,
é como os rios.
O homem que pensa é franco e generoso,
é pura chuva,
tem o coração voltado para os outros.
O homem que pensa é fonte e hóstia,
é musgo e noite,
é cor de sangue, cor de Sol a pino.
O homem que pensa é justo e solidário:
o pensamento é trigo
a partilhar na mesa dos convivas;
o pensamento não é fruto, é todo o horto das
nogueiras.
O pensamento é comunhão: bebei do vinho,
que esse é o vinho do Homem que não morre;
o pensamento é comunhão
e se oferece para que o homem seja mais humano
e viva mais humanamente:
a Lua não é Lua quando não é vista,
porém é Lua, e Lua mais terrena e mais perfeita
quando fulgura, cheia, em pleno céu,
a dar-se toda no ato de brilhar,
a desfazer-se em luz por sobre todos.
Em: “Futuro” (1968)
A Concórdia do Estado (esboço)
(Rembrandt van Rijn: pintor holandês)
Referência:
RAMOS, Péricles Eugênio da Silva.
Comunhão. In: __________. Poesia quase completa. 1. ed. Rio de Janeiro,
GB: Livraria José Olympio Editora, abr. 1972. p. 137-138.
Nenhum comentário:
Postar um comentário