A mensagem veiculada por Parra por meio do poema abaixo é suficientemente clara: pretende ele, com o seu método “antipoemático”, “causar espécie” ao leitor, como se este fosse submetido a sessões de perigosos e assustadores passeios por montanhas-russas, sentindo o vento acelerado nas faces, o rugido dos trilhos, os loops e as quedas a revirarem-lhe o estômago.
São os efeitos sobre o coração, o cérebro, o sangue e o equilíbrio o princípio motor da poesia do autor chileno, tudo muito bem condimentado com certa ironia e hilaridade – porque a vida, como se diria, não é mesmo para ser levada muito a sério, pois, de outro modo, perder-se-á o melhor que ela poderia nos oferecer: o encanto de cada momento! Veja, leitor, que foi com esse padrão de modos que Parra passou dos cem anos...
J.A.R. – H.C.
Nicanor Parra
(1914-2018)
La montaña rusa
Durante medio siglo
la poesía fue
el paraíso del tonto solemne.
Hasta que vine yo
y me instalé con mi montaña rusa.
Suban, si les parece.
Claro que yo no respondo si bajan
echando sangre por boca y narices.
En: “Versos de salón” (1962)
Montanha-russa
(Marvin Blaine: artista norte-americano)
A montanha-russa
Durante meio século
A poesia foi
O paraíso do bobo solene.
Até que cheguei eu
E me instalei com minha montanha russa.
Subam, se quiserem.
Claro que não respondo se saírem
Botando sangue pelas bocas e narinas.
Em: “Versos de Salão” (1962)
Referência:
PARRA, Nicanor. La montaña rusa / A
montanha-russa. Tradução de Joana Barossi e Cide Piquet. In: __________. Só
para maiores de cem anos: antologia (anti)poética. Seleção e tradução de
Joana Barossi e Cide Piquet. Edição bilíngue. 1. ed. São Paulo, SP: Editora 34,
2018. Em espanhol: p. 198; em português: p. 53.
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