Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 16 de março de 2021

Nicanor Parra - A montanha-russa

A mensagem veiculada por Parra por meio do poema abaixo é suficientemente clara: pretende ele, com o seu método “antipoemático”, “causar espécie” ao leitor, como se este fosse submetido a sessões de perigosos e assustadores passeios por montanhas-russas, sentindo o vento acelerado nas faces, o rugido dos trilhos, os loops e as quedas a revirarem-lhe o estômago.

São os efeitos sobre o coração, o cérebro, o sangue e o equilíbrio o princípio motor da poesia do autor chileno, tudo muito bem condimentado com certa ironia e hilaridade – porque a vida, como se diria, não é mesmo para ser levada muito a sério, pois, de outro modo, perder-se-á o melhor que ela poderia nos oferecer: o encanto de cada momento! Veja, leitor, que foi com esse padrão de modos que Parra passou dos cem anos...

J.A.R. – H.C.

 

Nicanor Parra

(1914-2018)

 

La montaña rusa

 

Durante medio siglo

la poesía fue

el paraíso del tonto solemne.

Hasta que vine yo

y me instalé con mi montaña rusa.

 

Suban, si les parece.

Claro que yo no respondo si bajan

echando sangre por boca y narices.

 

En: “Versos de salón” (1962)

 

Montanha-russa

(Marvin Blaine: artista norte-americano)

 

A montanha-russa

 

Durante meio século

A poesia foi

O paraíso do bobo solene.

Até que cheguei eu

E me instalei com minha montanha russa.

 

Subam, se quiserem.

Claro que não respondo se saírem

Botando sangue pelas bocas e narinas.

 

Em: “Versos de Salão” (1962)


Referência:

PARRA, Nicanor. La montaña rusa / A montanha-russa. Tradução de Joana Barossi e Cide Piquet. In: __________. Só para maiores de cem anos: antologia (anti)poética. Seleção e tradução de Joana Barossi e Cide Piquet. Edição bilíngue. 1. ed. São Paulo, SP: Editora 34, 2018. Em espanhol: p. 198; em português: p. 53.

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