Com poucas informações sobre a sua biografia na grande rede, o poeta carioca (1921-?) trata de um tema que é um descaso nas grandes cidades brasileiras: o trato correto do lixo na zona urbana. E mais: evidencia o que se desenrola na paisagem das ruas, vale dizer, pessoas carentes ao extremo recolhendo tudo o quanto possa provê-los de algo o que comer ou com o que se agasalhar.
Falta-lhes a dignidade roubada pela péssima distribuição de renda do país. Diga-se o que disser, mas o fato é que, nos últimos cinco anos, a quantidade de pedintes voltou a se expandir e, com ela, a percepção de que as terras de Pindorama estão fadadas a reproduzir ‘ad eternum’ o cenário bipolar e pernóstico das relações entre Casa-Grande & Senzala. Onde estarão as políticas governamentais dedicadas a abreviar esse estado de coisas?!
J.A.R. – H.C.
Lixo: Roma
(Dan Colen: artista norte-americano)
Lixo de Sobra
O lixo que sobra
é de todo mundo.
Os pobres mais pobres
encontram tesouros
entre caixas e trapos:
Gosma de pêssegos
nas latas deixadas,
macarrão empapado
em sacos plásticos
e um par de sapatos
que foi andarilho.
À noite, os cidadãos do mundo,
nascidos brasileiros,
põem seus cansaços nas horas
sem ver que as estrelas
apenas se apagam
nos cantos do sono.
Lixeiros passam
batendo as latas,
tudo o que é sobra
é lixo de gente,
é gente do lixo.
Usados
(Karl Gindel: artista norte-americano)
Referência:
UCHÔA, Fernando Jorge. Lixo de sobra.
In: __________. Flauta estridente e alvorada inquieta. São Paulo, SP:
Editora do Escritor, 1986. p. 40. (“Coleção do Poeta”; vol. nº 67)
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