Os versos deste curto poema espelham os sentimentos do falante, vale dizer, permeados pela impressão de ser como uma ovelha desencaminhada, num mundo sombrio e sem sentido: o cenário à volta, em resposta, “consterna-se” com essa sensação de estranhamento, desalento e inquietude.
Os recursos metafóricos empregados, bem assim os expedientes de personificação, somente acentuam as consequentes ilações que o leitor pode arrebatar às linhas do poema: o ente lírico experimenta certo aperto por encontrar-se egresso de seus pares, não cedendo em harmonizar-se com suas expectativas.
J.A.R. – H.C.
Sylvia Plath
(1932-1963)
Sheep in Fog
The hills step off into whiteness.
People or stars
Regard me sadly, I disappoint them.
The train leaves a line of breath.
O slow
Horse the colour of rust,
Hooves, dolorous bells –
All morning the
Morning has been blackening,
A flower left out.
My bones hold a stillness, the far
Fields melt my heart.
They threaten
To let me through to a heaven
Starless and fatherless, a dark water.
Ovelhas na Cerração
(Elena Yushina: pintora crimeia)
Ovelha na Cerração
Os morros desaparecem na brancura.
Pessoas ou estrelas
Tristes me olham, desapontadas comigo.
O trem deixa uma linha de sopros.
O lento
Cavalo cor de ferrugem.
Cascos, dolorosos guizos –
Toda manhã a
Manhã esteve escura,
Uma flor esquecida.
Meus ossos gozam de uma calma, os campos
Longe derretem meu coração.
Tudo ameaça
Deixar-me ir por um céu
Sem estrelas e órfão, uma água espessa.
Referência:
PLATH, Sylvia. Sheep in fog / Ovelha na
cerração. Tradução de Afonso Félix de Souza. In: KEYS, Kerry Shawn (Org.). Quingumbo.
New North American Poetry / Nova Poesia Norte-Americana. Antologia bilíngue.
São Paulo, SP: Escrita, 1980. Em inglês: p. 206; em português: p. 207. (Coleção
‘Marginais, Profetas e Malditos’)
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