Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 2 de janeiro de 2021

Marcos Konder Reis - Cara ou Coroa no Ano Novo

No verso e reverso de lutas e afagos o poeta lança invectivas ao ano que se inicia, porque, nele, os dias sucedem sempre a oscilar numa inconstância de apegos e de encargos, caras ou coroas, numa aflitiva falta de equilíbrio − em face da qual o falante nada mais pode expectar de que venha a termo com os louros do êxito ou da vitória.

Há aqueles que nesse jogo binário sempre achem que o lado errado é o que se lhe vai dar em conta, ou ainda, que na queda da banda do pão ao chão, o lado com a manteiga é o que invariavelmente beijará o solo. Mas tamanho pessimismo não torna as coisas mais ponderadas: afinal, o evento que encerra a tendência mediana é o que sobrevirá com maior probabilidade – e nem tudo é o desastre total, tampouco um completo “mar de brigadeiro”. Talvez um pouco de serenidade, à moda dos estoicos, seja a chave!

J.A.R. – H.C.

 

Marcos Konder Reis

(1922-2001)

 

Cara ou Coroa no Ano Novo

 

Abro a tua cara,

Ó Ano Novo,

Na alma ignara

Do meu povo,

 

Como a quentura

De um tapa, ou como

A alta ternura

De um noivo. E o gomo

 

Da minha incauta

Anestesia

Seja uma flauta

No sul de um dia

 

Posta a encantá-los,

Mas se ele, insano,

Do amor que falo

Sorver o engano,

 

Que vibre um galo

(Soco nas ventas)

E em vez de armá-lo,

Arme as tormentas

 

Por sobre a campa

Em que se deita,

Para que a estampa

Dos calendários

 

Erga em dezembro

(Que o tempo voa!)

No fim dos páreos

A tua coroa.

 

Feliz Ano Novo!

(Olga Vorobyova: pintora russa)


Referência:

REIS, Marcos Konder. Cara ou coroa no ano novo. In: __________. Antologia poética. Rio de Janeiro, GB: Editora Leitura, 1971. p. 160.

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