O escritor santa-lucense leva-nos a um ponto de dúvida acerca de nossa relação com a Terra, a vida e o dia: somos por eles “possuídos” ou os “possuímos”?! De fato, há uma relação recíproca, pois nos aclimatamos ao mundo natural, harmonizando-nos ao correr do tempo, do alvorecer ao crepúsculo, quando então nos tornamos “árvores negras”, estabilizadas no solo.
Há uma nítida envoltória de metáforas que se sucedem ao fim da tarde e começo da noite, interregno em que assomam os componentes reveladores de um indutor domínio criativo: nesse cadinho, conceitos, memórias e valores se amalgamam numa síntese, com o propósito de regenerar o espírito à luz de uma lua nova.
J.A.R. – H.C.
Derek Walcott
(1930-2017)
Earth
Let the day grow on you upward
through your feet,
the vegetal knuckles,
to your knees of stone,
until by evening you are a black tree;
feel, with evening,
the swifts thicken your hair,
the new moon rising out of your forehead,
and the moonlit veins of silver
running from your armpits
like rivulets under white leaves.
Sleep, as ants
cross over your eyelids.
You have never possessed anything
as deeply as this.
This is all you have owned
from the first outcry
through forever;
you can never be dispossessed.
A Conexão
(Lisete Alcalde: pintora mexicana)
Terra
Deixa que o dia cresça e ascenda em ti,
através dos teus pés,
das articulações vegetais,
ao encontro dos teus joelhos de pedra,
até que, ao crepúsculo, sejas uma árvore negra;
sente, com o anoitecer,
os guilros espessarem o teu cabelo,
a lua nova a surgir da tua fronte,
e as veias de prata iluminadas pela lua
correndo por tuas axilas,
como regatos sob folhas brancas.
Dorme, enquanto as formigas
cruzam as tuas pálpebras.
Jamais possuíste nada
tão profundamente quanto isso.
Isso é tudo de que fruíste
desde o primeiro clamor
e daqui para sempre;
nunca poderás ser expropriado.
Referência:
WALCOTT, Derek. Earth. In: ASTLEY, Neil
(Ed.). Staying alive: real poems for unreal times. 1st. ed. New York,
NY: Miramax Books, 2003. p. 423.
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