Partindo da ideia de “apokatastasis”, elaborada pelo teólogo cristão Orígenes (185 d.C. – 254 d.C.) e fundamentada no conceito de salvação universal, Milosz busca, por intermédio deste poema, desvendar as conexões de tal abstração às mais recentes teorias da mecânica quântica, de modo a revelar possíveis conexões entre ciência e religião.
Nada obstante, observa-se que o poeta procura distanciar-se das querelas racionais meramente especulativas, bem assim do discurso pseudocientífico, isto porque, muito provavelmente, é cético quanto ao poder que temos para, um dia, virmos a quebrar o código do mistério do destino humano após a morte.
Entrementes, Milosz atém-se a repetir, não sem alguma ironia, a súplica por uma vida eterna – assim como o fazem os fiéis numa igreja de aldeia –, sem exatamente saber ou entender quem será, quando vier a acordar depois do estágio de penitência advogado pela escatologia cristã.
J.A.R. – H.C.
Czeslaw Milosz
(1911-2004)
Po odcierpieniu
Hipoteza zmartwychwstania,
Którą pewien uczony wywiódł z mechaniki kwantowej,
Przewiduje powrót do bliskich nam miejsc i ludzi
Za miliard albo dwa miliardy ziemskich lat
(Co w pozaczasie równa się jednej chwili).
Rad jestem, że dożyłem spełnienia się przepowiedni
O możliwym aliansie religii i nauki,
Którą przygotowali Einstein, Planck i Bohr.
Nie biorę zbyt poważnie naukowych
fantazji,
Mimo że respektuję wzory i wykresy.
To samo ujął krócej Piotr Apostoł,
Mówiąc: A p o k a t a s t a s i s p a n t o n ,
Odnowienie wszechrzeczy.
Jednakże to pomaga: móc sobie wyobrazić,
Że każda osoba ma kod zamiast życia
W przechowalni na wieczność, nadkomputerze
wszechświata.
Rozpadamy się w zgniliznę, proch, mikronawozy,
Ale zostaje já szyfr czyli esencja,
I czeka, aż nareszcie obleka się w ciało.
Jak również, skoro ta nowa cielesność
Powinna być obmyta ze zła i choroby,
Idea Czyśćca ma udział w równaniu.
Nie co innego wierni w wiejskim kościele
Chóralnie powtarzają, prosząc o żywot wieczny.
I já z nimi. Nie rozumiejący
Kim będę, kiedy zbudzę się po odcierpieniu.
(1994)
Vida e Morte
(Mark Moore: pintor norte-americano)
Depois da penitência
A hipótese da ressurreição,
Que um cientista deduziu da mecânica quântica,
Prevê o retorno aos lugares e pessoas de que
gostamos
Em um ou dois bilhões de anos terrenos
(O que no além-do-tempo é igual a um instante).
Estou contente por estar vivo quando se cumpre a
profecia
Sobre a possível aliança entre a ciência e a
religião,
Preparada por Einstein, Planck e Bohr.
Não levo muito a sério as fantasias científicas,
Embora respeite as fórmulas e gráficos.
Pedro Apóstolo foi mais conciso
Dizendo: A p o k a t a s t a s i s p a n t o n ,
A renovação de todas as coisas.
Porém isso ajuda: poder imaginar
Que cada um de nós, em vez da vida, tem um código
Guardado num depósito para a eternidade,
o supercomputador do universo.
Nos desmanchamos em podridão, cinzas, microadubo,
Mas aquela cifra, ou seja, a essência, permanece
E espera, até que por fim se reveste de corpo.
E se esta nova corporeidade
Precisa ser lavada do mal e da doença,
A ideia do Purgatório também entra na equação.
Não é outra coisa que os fiéis numa igreja de
aldeia
Repetem em coro, pedindo a vida eterna.
E eu com eles. Sem entender
Quem serei, quando acordar depois da penitência.
(1994)
Referência:
MILOSZ, Czeslaw. Po odcierpieniu /
Depois da penitência. Tradução de Henryk Siewierski e Marcelo Paiva de Souza.
In: __________. Não mais. Seleção, tradução e introdução de Henryk
Siewierski e Marcelo Paiva de Souza. Brasília, DF: Editora da UnB, 2003. Em
polonês: p. 92 e 94; em português: p. 93 e 95. (Coletânea ‘Poetas do Mundo’)
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