Eis aqui um poema curto, mas significativo, do poeta canadense: diz-nos ele que um dado carme escrito é, vezes sem conta, “reescrito” a cada ensejo em que um leitor se ponha a interpretá-lo, pois, sob a ótica do ente lírico, os versos não constituem uma peça “fixa e sólida”, senão exposta à dinâmica hermenêutica daqueles que se propõem a decifrá-la.
Tudo se passaria, por conseguinte, como uma “troca de presentes” entre o poeta e os seus leitores, haja vista que, embora um poema em sua forma definitiva esteja gravado no fundo estático de uma página, o que ele representa para aqueles que se propõem a considerá-lo varia no espaço e no tempo – mesmo que falecido já se encontre o seu autor.
J.A.R. – H.C.
Alden Nowlan
(1933-1983)
As long as you read
this poem
I will be writing it.
I am writing it here
and now
before your eyes,
although you can’t
see me.
Perhaps you’ll
dismiss this
as a verbal trick,
the joke is you’re
wrong;
the real trick
is your pretending
this is something
fixed and solid,
external to us both.
I tell you better:
I will keep on
writing this poem for
you
even after I’m dead.
Oh, diga o que você vê
(T. J. Eddy: pintor norte-americano)
Uma Troca de Presentes
Enquanto lês este poema,
estarei a redigi-lo.
Estou a redigi-lo aqui e agora
diante de teus olhos,
embora me ver não possas.
Talvez encares tais palavras
como um truque verbal,
a piada é que te equivocas;
o verdadeiro truque
consiste em tua pretensão
de que isto seja algo
fixo e sólido,
externo a nós dois.
Digo-te melhor:
continuarei a redigir
este poema para ti,
mesmo depois de morto.
Referência:
NOWLAN,
Alden. An exchange of gifts. In: ASTLEY, Neil (Ed.). Staying alive: real
poems for unreal times. 1st. ed. New York, NY: Miramax Books, 2003. p. 443.
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