Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Alden Nowlan - Uma Troca de Presentes

Eis aqui um poema curto, mas significativo, do poeta canadense: diz-nos ele que um dado carme escrito é, vezes sem conta, “reescrito” a cada ensejo em que um leitor se ponha a interpretá-lo, pois, sob a ótica do ente lírico, os versos não constituem uma peça “fixa e sólida”, senão exposta à dinâmica hermenêutica daqueles que se propõem a decifrá-la.

Tudo se passaria, por conseguinte, como uma “troca de presentes” entre o poeta e os seus leitores, haja vista que, embora um poema em sua forma definitiva esteja gravado no fundo estático de uma página, o que ele representa para aqueles que se propõem a considerá-lo varia no espaço e no tempo – mesmo que falecido já se encontre o seu autor.

J.A.R. – H.C.

 

Alden Nowlan

(1933-1983)

 

An Exchange of Gifts

 

As long as you read this poem

I will be writing it.

I am writing it here and now

before your eyes,

although you can’t see me.

Perhaps you’ll dismiss this

as a verbal trick,

the joke is you’re wrong;

the real trick

is your pretending

this is something

fixed and solid,

external to us both.

I tell you better:

I will keep on

writing this poem for you

even after I’m dead.

 

Oh, diga o que você vê

(T. J. Eddy: pintor norte-americano)

 

Uma Troca de Presentes

 

Enquanto lês este poema,

estarei a redigi-lo.

Estou a redigi-lo aqui e agora

diante de teus olhos,

embora me ver não possas.

Talvez encares tais palavras

como um truque verbal,

a piada é que te equivocas;

o verdadeiro truque

consiste em tua pretensão

de que isto seja algo

fixo e sólido,

externo a nós dois.

Digo-te melhor:

continuarei a redigir

este poema para ti,

mesmo depois de morto.


Referência:

NOWLAN, Alden. An exchange of gifts. In: ASTLEY, Neil (Ed.). Staying alive: real poems for unreal times. 1st. ed. New York, NY: Miramax Books, 2003. p. 443.

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