Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Pablo Neruda - Os inimigos

Neruda aspira por um hipotético julgamento, em praça pública, dos invasores das terras da América Latina, por haverem ordenado a dizimação da população que aqui vivia, antes que o homem europeu as “conquistassem” de forma brutal, pilhando-as para daqui levar todo o ouro e cobre disponível, naquilo que, em História, costuma-se nomear como o “Período Colonial” das possessões de ultramar.

O poeta arrola, junto aos aludidos “inimigos”, todos aqueles conterrâneos traidores que se dispõem a coadjuvar os desavindos à paga de prosperem e enriquecerem, enquanto o povo prorrompe na penúria: quem não perceberia a manutenção de tais práticas até o dia de hoje, quando são notórias, v.g., as ações dos sorrelfas instalados nos três poderes da República de Pindorama?!

J.A.R. – H.C.

 

Pablo Neruda

(1904-1973)

 

Los enemigos

 

Ellos aquí trajeron los fusiles repletos

de pólvora, ellos mandaron el acerbo exterminio,

ellos aquí encontraron un pueblo que cantaba,

un pueblo por deber y por amor reunido,

y la delgada niña cayó con su bandera,

y el joven sonriente rodó a su lado herido,

y el estupor del pueblo vio caer a los muertos

con furia y con dolor.

Entonces, en el sitio

donde cayeron los asesinados,

bajaron las banderas a empaparse de sangre

para alzarse de nuevo frente a los asesinos.

 

Por esos muertos, nuestros muertos,

pido castigo.

 

Para los que de sangre salpicaron la patria,

pido castigo.

 

Para el verdugo que mandó esta muerte,

pido castigo.

 

Para el traidor que ascendió sobre el crimen,

pido castigo.

 

Para el que dio la orden de agonía,

pido castigo.

 

Para los que defendieron este crimen,

pido castigo.

 

No quiero que me den la mano

empapada con nuestra sangre.

Pido castigo.

No los quiero de embajadores,

tampoco en su casa tranquilos,

los quiero ver aquí juzgados

en esta plaza, en este sitio.

 

Quiero castigo.

 

Morte ao invasor

(David Alfaro Siqueiros: artista mexicano)

 

Os inimigos

 

Eles aqui trouxeram os fuzis repletos

de pólvora, ordenaram acerbo extermínio,

aqui encontraram um povo que cantava,

um povo por dever e por amor reunido,

e a esguia menina foi abatida com sua bandeira,

e o jovem sorridente tombou a seu lado ferido,

e o estupor do povo viu os mortos caírem

com fúria e com dor.

Então, no lugar

onde sucumbiram os assassinados,

baixaram as bandeiras para se empaparem de sangue

e de novo se alçarem diante dos assassinos.

 

Por esses mortos, nossos mortos,

peço castigo.

 

Para os que salpicaram a pátria de sangue,

peço castigo.

 

Para o verdugo que ordenou tais mortes,

peço castigo.

 

Para o traidor que sobre o crime prosperou,

peço castigo.

 

Para o que deu a ordem de agonia,

peço castigo.

 

Para os que defenderam esse crime,

peço castigo.

 

Não quero que me apertem a mão

empapada com nosso sangue.

Peço castigo.

Não os quero como embaixadores,

tampouco tranquilos em sua casa,

quero-os ver aqui julgados,

nesta praça, neste lugar.

 

Quero castigo.


Referência:

NERUDA, Pablo. Los enemigos. In: __________. Canto general. 1. ed. Santiago, CL: Pehuén, jul.2005. p. 235-236.

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