Sob o peso da solidão, a poetisa inglesa apresenta-nos um poema que não se pretende, efetivamente, um poema, senão uma confissão de um estado aflitivo explícito, motivo pelo qual são desnecessários quaisquer artifícios para tornar o discurso mais belo ou atraente – tal como o faz o pintor em suas telas, empregando os recursos de tom e calidez das cores de sua paleta.
Trata-se de uma inflexão nos propósitos poéticos da autora, para tornar os seus versos menos pesados ou artificiais, menos propensos a saírem rapidamente de cena – como os quadros mais carregados de tinta, ou ainda, de um volume substancial de pigmentos –, tencionando alcançar, com isso, uma maior identidade entre a sua própria dicção e a elocução do ente lírico.
J.A.R. – H.C.
Helen Ivory
(n. 1969)
Note to the reader: this is not a poem
The pictures are falling from my walls
because the paint is too heavy.
Illusionary landscapes are real landscapes now.
No need for tonality or warmth of colour.
Now I write another poem that nobody will read.
There is loneliness in these words
I tell you the supposed reader in plain terms.
There is no need to hide behind poetry.
I won’t try to be clever with you.
Uma jovem lendo
(Roderic O’Connor: pintor irlandês)
Nota ao leitor: isto não é um poema
As telas estão caindo de minhas paredes
Porque a tinta é demasiado pesada.
As paisagens ilusórias são paisagens reais agora.
Não se necessita de matiz ou calidez de cor.
Redijo, por ora, outro poema que ninguém lerá.
Há solidão nestas palavras,
Digo-te, provável leitor, em termos simples.
Não há necessidade de se ocultar por trás da
poesia.
Não diligenciarei em ser astuta contigo.
Referência:
IVORY,
Helen. Note to the reader: this is not a poem. In: ASTLEY, Neil (Ed.). Staying
alive: real poems for unreal times. 1st. ed. New York, NY: Miramax Books,
2003. p. 443.
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