As coisas fluem sem algo de renovador para o poeta, sempre a deduzir padrões uniformes na sequência dos anos, metaforicamente qualificados como raquíticos e enfermiços, por trás de um modo de vida mecânico, no qual hoje se “consome” a força de trabalho descartável – como a de um escriturário – que, amanhã, será prontamente substituída ou, quiçá, nem mais se tornará necessária, por força de mudanças na economia.
Tal andar da carruagem semelha-se ao autor argentino a uma queda que se presume irreversível, levando-o a recolher-se a um arquétipo de vida bastante correlato a de um aposentado, remoendo suas ânsias, receios, inquietações, em meio a seus familiares e vizinhos, enquanto os dias pendem sob o “insustentável fardo do ser!” (rs)
J.A.R. – H.C.
Máximo Simpson
(1929-2017)
Poema de año nuevo
Tan mortal como el otro,
tan reciente,
es un año tan año que da pena,
que da llanto y da rabia.
Eso simplemente: tan pequeño,
tan efímero rostro, tan escaso,
tan difunto y floral,
que lo veo pasar desenrollando
variados arrebatos, diminutas acciones,
coyunturas y brindis,
como el buen empleado de oficina,
impasible escribano de los muertos,
que dejará a su vez un almanaque,
una silla y un sueldo para otro.
Minúsculas reyertas con sus golpes de mano,
los gestos estruendosos y las revoluciones,
los precarios destinos navegando en la gota
del año inmemorial que se repite,
me ponen melancólico, irritable.
Sin embargo a mí esto no me arredra,
no me estorba empezar todo de nuevo:
ordené mis carpetas,
discipliné el declive de mis años,
esta gran inquietud que me atenaza,
y me dispuse a ser,
a ser nomás un hombre,
con el desbarajuste que sostengo,
con mi gran ansiedad desaforada,
y así compaginados mis recelos,
metodizada el ansia, con mi tormento en regla,
yo me pues a vivir entre mis deudos,
a caminar entre vecinos,
para vivir nomás, vivir si esto es posible,
solamente morir,
vivir y estar cayendo.
Véspera do Ano Novo
(Ekaterina Tarakanova: pintora russa)
Poema de ano novo
Tão mortal quanto o outro,
tão recente,
é um ano tão ordinário que dá pena,
que dá pranto e raiva.
Simplesmente isso: tão pequeno,
tão efêmero rosto, tão minguado,
tão defunto e floral,
que o vejo passando a desatar
diversos arroubos, diminutas ações,
circunstâncias e felicitações,
como o bom funcionário de escritório,
impassível escrivão dos mortos,
que deixará, por sua vez, um almanaque,
uma cadeira e um salário para outro.
Minúsculas altercações com suas investidas de
surpresa,
os gestos tumultuosos e as revoluções,
os precários destinos a navegar na gota
do ano imemorial que se repete,
tornam-me melancólico, irritável.
No entanto, isso não me assusta,
não me impede de começar tudo de novo:
ordenei minhas pastas,
disciplinei o declínio dos meus anos,
esta grande inquietação que me atormenta,
e me dispus a ser,
a ser não mais que um homem,
com a desordem que sustento,
com minha grande ansiedade desaforada,
e assim compaginados meus receios,
metodizada a ânsia, com meu tormento em ordem,
pus-me a viver entre meus parentes,
a caminhar entre vizinhos,
para não mais que viver, viver se isto é possível,
somente morrer,
viver e estar em queda.
Referência:
SIMPSON, Máximo. Poema de año nuevo.
In: __________. Poemas del hotel melancólico. 3. ed. Buenos Aires, AR:
Ediciones Botella al Mar, 2007. p. 20-21. Disponível neste endereço. Acesso em: 11 nov.
2020.
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