Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Máximo Simpson - Poema de ano novo

As coisas fluem sem algo de renovador para o poeta, sempre a deduzir padrões uniformes na sequência dos anos, metaforicamente qualificados como raquíticos e enfermiços, por trás de um modo de vida mecânico, no qual hoje se “consome” a força de trabalho descartável – como a de um escriturário – que, amanhã, será prontamente substituída ou, quiçá, nem mais se tornará necessária, por força de mudanças na economia.

Tal andar da carruagem semelha-se ao autor argentino a uma queda que se presume irreversível, levando-o a recolher-se a um arquétipo de vida bastante correlato a de um aposentado, remoendo suas ânsias, receios, inquietações, em meio a seus familiares e vizinhos, enquanto os dias pendem sob o “insustentável fardo do ser!” (rs)

J.A.R. – H.C.

 

Máximo Simpson

(1929-2017)

 

Poema de año nuevo

 

Tan mortal como el otro,

tan reciente,

es un año tan año que da pena,

que da llanto y da rabia.

Eso simplemente: tan pequeño,

tan efímero rostro, tan escaso,

tan difunto y floral,

que lo veo pasar desenrollando

variados arrebatos, diminutas acciones,

coyunturas y brindis,

como el buen empleado de oficina,

impasible escribano de los muertos,

que dejará a su vez un almanaque,

una silla y un sueldo para otro.

 

Minúsculas reyertas con sus golpes de mano,

los gestos estruendosos y las revoluciones,

los precarios destinos navegando en la gota

del año inmemorial que se repite,

me ponen melancólico, irritable.

Sin embargo a mí esto no me arredra,

no me estorba empezar todo de nuevo:

ordené mis carpetas,

discipliné el declive de mis años,

esta gran inquietud que me atenaza,

y me dispuse a ser,

a ser nomás un hombre,

con el desbarajuste que sostengo,

con mi gran ansiedad desaforada,

y así compaginados mis recelos,

metodizada el ansia, con mi tormento en regla,

yo me pues a vivir entre mis deudos,

a caminar entre vecinos,

para vivir nomás, vivir si esto es posible,

solamente morir,

vivir y estar cayendo.

 

Véspera do Ano Novo

(Ekaterina Tarakanova: pintora russa)

 

Poema de ano novo

 

Tão mortal quanto o outro,

tão recente,

é um ano tão ordinário que dá pena,

que dá pranto e raiva.

Simplesmente isso: tão pequeno,

tão efêmero rosto, tão minguado,

tão defunto e floral,

que o vejo passando a desatar

diversos arroubos, diminutas ações,

circunstâncias e felicitações,

como o bom funcionário de escritório,

impassível escrivão dos mortos,

que deixará, por sua vez, um almanaque,

uma cadeira e um salário para outro.

 

Minúsculas altercações com suas investidas de surpresa,

os gestos tumultuosos e as revoluções,

os precários destinos a navegar na gota

do ano imemorial que se repete,

tornam-me melancólico, irritável.

No entanto, isso não me assusta,

não me impede de começar tudo de novo:

ordenei minhas pastas,

disciplinei o declínio dos meus anos,

esta grande inquietação que me atormenta,

e me dispus a ser,

a ser não mais que um homem,

com a desordem que sustento,

com minha grande ansiedade desaforada,

e assim compaginados meus receios,

metodizada a ânsia, com meu tormento em ordem,

pus-me a viver entre meus parentes,

a caminhar entre vizinhos,

para não mais que viver, viver se isto é possível,

somente morrer,

viver e estar em queda.


Referência:

SIMPSON, Máximo. Poema de año nuevo. In: __________. Poemas del hotel melancólico. 3. ed. Buenos Aires, AR: Ediciones Botella al Mar, 2007. p. 20-21. Disponível neste endereço. Acesso em: 11 nov. 2020.

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